segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Depoimento de Murilo Silveira

                                   Depoimento de Murilo Silveira




Meu nome é Murilo Silveira, nasci em 29 de julho de 1921, em São Roque na Rua 15 de novembro.
Meus pais Irineu de Campos Silveira, que era pintor e minha mãe Maria Josefina Verani.
Meus avós maternos Pedro Verani e Adélia Verani e os avós paternos Argemiro Silveira e Maria Benedita de Campos.
Meu avô paterno era advogado, promotor em Jabuticabal, Argemiro Silveira e minha avó Maria Benedita era doméstica. O avô materno era negociante, tinha casa de Comércio.
A origem do nome Verani, é italiana. Meu avô veio da Itália, praticamente sozinho e a família Silveira veio de Sorocaba.

Família

A família Verani, de italianos era uma família grande, viviam bastante alegres, minha mãe tinha um irmão, o Reinaldo Verani, que era um show, uma figura festiva aqui em São roque.
Minha mãe casou duas vezes, quando meu pai morreu ela casou-se com um primo. Os filhos do primeiro casamento, eu Murilo e Irineu (Zeneu) e do segundo casamento, Vilma, Maria Helena e Manduca, infelizmente faleceu.

Infância

Quando meu pai morreu minha avó fez essa casa na Rua Rui Barbosa, para nós, em 1927. Dormiam aqui nesse cômodo, eu, Zeneu e minha avó, pra mim era o melhor cômodo da casa, tenho grandes recordações foi um tempo muito feliz.
Frequentei o Grupo Dr. Bernardino de Campos, onde as brincadeiras com os colegas eram Barra-manteiga, pula-cela. Jogava futebol também com a molecada no antigo Campo de São Bento, Clube Atlético São Bento, que ficava no centro, onde hoje é a Avenida marginal, que atravessou o campo na época da sua construção, era um clube tradicional, isso entre 1930 e 40. Nessa época de infância tinha amizades, sinceras, eu me lembro desse tempo com muita alegria.
Fui fazer o ginásio em São Paulo no Liceu Coração de Jesus, porque minha mãe, viúva, casou-se novamente e a família toda foi morar em São Paulo porque o segundo marido dela trabalhava lá.
Moramos por dois anos na Vila Mariana, na Rua José Antônio Coelho, lá a gente brincava muito de patinação, tinha muitos ringues de patinação na época. Depois mudamos para o Bairro de Perdizes e estudávamos na Avenida São João, eu e meu irmão estudamos sempre juntos, estudamos no externato Coração de Jesus, que era uma escola muito importante.
Foi uma fase muito especial, graças à atuação de um amigo muito especial também Ademar Biar, que era nosso diretor do futebol, do ping-pong e foi uma vida muito esportiva e agradável. Nós disputávamos com os Colégios das Perdizes e da Pompéia, Bola ao cesto, ping-pong e futebol.
Depois do ginásio fomos morar numa rua que hoje é a Avenida São João e minha avó gostaria que nós fôssemos dentistas, eu nem tinha muita vocação pra isso, mas felizmente me dei bem, meu irmão infelizmente não se deu bem com a profissão porque ele ficou doente, trabalhava, mas não gostava.
Estudei na Faculdade de odontologia da USP na Rua Três Rios. Foi uma fase muito boa e nós continuávamos tendo vida esportiva e disputando com outras escolas.
A cada 15 dias e nas férias, vínhamos pra São Roque porque tínhamos nossa avó Maria Verani, que era muito apegada e os outros familiares. As férias eram muito boas, íamos aos bailes de Agosto, pois já éramos mocinhos, a festa de agosto era sagrada e vínhamos porque tínhamos essa casa e tinha que conservá-la, abrir pra arejar.
Eu me adaptei muito bem com a profissão e já no terceiro ano de faculdade eu fui trabalhar com um dentista, que foi um grande amigo, Arnaldo Bartolomeu. Trabalhei muito tempo e como auxiliar dele eu ganhava muito bem. Infelizmente ele morreu pelo abuso do raios-X, radioatividade, teve câncer. Depois que fui trabalhar sozinho, montei meu consultório na Alameda Nothman, mas ganhava muito menos.

Volta pra São Roque

Chegou uma fase em São Paulo, que os prédios não alugavam mais pra dentistas, por problemas de encanamento e também porque os pacientes cuspiam nas escadas e nos elevadores, então não conseguíamos alugar um consultório porque éramos dentistas, aí eu voltei pra São Roque, em 1945 e viemos morar novamente nessa casa.




Eu e meu irmão trabalhávamos primeiro onde era a casa da Dona Marucha, onde hoje é a Caixa Econômica e depois mudamos para o prédio do Pontes. Foi uma época de alegria trabalhar junto com meu irmão, mas daí meu irmão montou um consultório na casa dele e eu fiquei sozinho, o aluguel ficou caro pra um só, então eu fiz o consultório aqui ao lado da minha casa. Mas não foi bom separar do meu irmão, pra nenhum dos dois, acho que nascemos pra trabalhar juntos, ambos pioraram.
Meu pai era diretor da Brasital e eu fui escolhido pra trabalhar como dentista dos operários da Brasital, foi muito bom, passei a ganhar mais. Fiz muitas amizades, eles ficavam a vontade, eram pessoas simples e boas, tenho ótimas recordações desse tempo, isso por volta de 1952.

Namoro e casamento

O segundo marido da minha mãe era irmão da mãe da Rosa, minha esposa e a gente já se conhecia, já tínhamos laços familiares. Começamos a namorar numa Festa de Agosto, no Baile e eu gostava muito de dançar e aí tirei-a pra dançar e começou o amor no meu coração. Namoramos e nos casamos em 1949, faz tempo heim! Viemos morar aqui, a casa foi reformada duas vezes e quando vim morar aqui, depois de um tempo também fiz outra reforma e fiz um consultório pequeno aqui.




Vida social e familiar

Brincadeiras na Literária, às vezes íamos ao cinema na segunda seção, mas era mais dançar mesmo, não tinha muito que fazer. A família grande sempre se reunia.
Primeiro filho, Murilinho nasceu em novembro de 1950 e Paulo Rubens nasceu em Julho de 1955. Murilinho é professor de matemática e Paulo engenheiro mecânico. Murilinho mora num sitio, que era da família da Rosa.

                                         Carreira de pintor




Começou como um desafio, eu gostava de pintar, mas não achava tempo, meu irmão que era muito agarrado comigo me deu uma caixa de tintas e disse “faz o que você gosta” e me dei muito bem.
Meu primeiro quadro ficou uma beleza, talvez hoje eu não fizesse tão bem.
Continuei depois me aposentei e me dediquei mais à pintura. Tanto que quando fui homenageado, recebi a medalha do Barão de Piratininga, eu pensei que era pelo meu trabalho de pintor, mas fui homenageado como cidadão são-roquense.
Tive quatro professores de pintura, muito bons. Aqui aprendi a pintar com um grande pintor da Igreja, o Pedro Gentilli e aprendi muito com ele. Meus temas preferidos são ruas e casas, meus primeiros quadros eram casarios, modéstia à parte eu pinto bem casarios. Expus meus quadros na Pça. da Republica em São Paulo.
A Capela de Santo Antônio e a Igreja de São Benedito, foram as obras que se destacaram, venderam todas. Aqui em São Roque eu e o capitão Jorge da aeronáutica, ficamos amigos e ele também gostava muito de desenho e pintura, então arranjamos um grande pintor como professor, em Sorocaba, Carlos Augusto Cardoso formado na escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e estudamos dois anos com ele e eu melhorei muito meu trabalho. Meu atelier era aqui em casa mesmo, no começo eu ia ao local, por exemplo, ia na Capela de Santo Antônio e pintava lá, mas depois por fotografia. Eu comecei a pintar a capela graças ao um pintor santista, que também foi meu professor, Paulo Siqueira, aprendi com ele pintar do natural.



Eu convivia muito com o Franco Mazzoto, inclusive fomos juntos vender os quadros na Pça da Republica, por dois ou três anos seguidos, todos os domingos.
Aqui fiz uma exposição no São Roque Clube, que teve grande sucesso, vendi todos os quadros expostos. Atualmente é mais difícil vender.
Eu me encontrei na pintura, pra mim era uma grande honra ser pintor. Eu sempre desenhei bem, gostava e se não tivesse feito odontologia teria estudado pintura.
Em São Roque eu gostei muito de ser festeiro em 1954, com o Vasco Barioni e esposa e pra mim foi uma grande honra, pois eu achava que era o melhor do que qualquer outra coisa ser festeiro de São Roque, e nós quatro fizemos uma grande festa. Gastei muito, mas fizemos uma grande festa, promovemos um show, jantar pros artistas. A ideia era reviver festas antigas e mais por sonho de Vasco, representamos a Cavalhada, deu muito trabalho, mas foi muito bem realizado.
Socialmente era uma grande honra ser festeiro, porque a gente percorre a cidade toda e faz muitas amizades, ficamos muito respeitados, as pessoas nos encontram na rua e ajudam com dinheiro para o livro de ouro.

Mensagem

Sinto-me satisfeito e uma honra deixar documentado a memória da minha passagem nessa vida, é interessante.
A pintura pra mim é uma realização, mesmo mais velho eu ainda me arrisco, mexo em alguns quadros antigos. 
Agradeço essa oportunidade.


Fotos, edição e entrevista: Denise Boschetti




                       

domingo, 30 de outubro de 2011

Ruas e Casas- lembranças

                                                        

 Casa da Criança na Rua Enrico Dell'Acqua 
        Foto: acervo Bruno de Lucca

RUAS DE NOMES IMPORTANTES. RUAS IMPORTANTES PELAS QUAIS TRANSITEI.


Rua Rui Barbosa, rua central da cidade com nome importante.
Meus nonos moravam nessa rua. Meu tio teve um Armazém.

A vida era tão tranquila, o mundo era ali. Eu devia ter de 6 para sete anos.

A casa com fachada de pastilhas, do Senhor Quinzinho, o querido e lindo Cine São José, os pirulitos em forma de guarda chuva, a pipoca, as ruelas e galerias de passagem para o Bar Bacana. Assar pão de torresmo, caseiro, no forno a lenha do Guarani, trazer quentinho pra casa, muito bom..

Outra memória inesquecível é o cheiro do pé Manacá no quintal da nona, na divisa com o meu essa é outra passagem de uma casa e de uma rua pra outra, isso dava certo poder, um território maior pra transitar, entre as ruas Rui Barbosa e Enrico Dell’Acqua, sempre nomes importantes. 

Minha casa era no numero 332, diferente do que é hoje, muito próxima do atual Edifício Montpellier, onde antes, era a Casa da Criança (foto), uma casa antiga grande, com sacadas e jardins misteriosos, onde moravam duas idosas.

A primeira vez que entrei foi com minha mãe, outras pessoas da família e vizinhos. A imagem foi terrível, uma mulher branca com cabelos brancos, numa cadeira de rodas, sem sol, no fim da vida e outra que cuidava dela. Viviam à míngua, moravam lá pra justificar o imóvel.

Durante certo tempo a proprietária da casa, Da. Maria Prestes casou-se e foi morar na Casa com seu esposo, a casa foi melhorada e melhor cuidada durante esse tempo. Depois voltou a ficar abandonada, o mato encobrindo, cheia de mistérios.
Ali também moravam corujas, no alto da casa, Sondara, que toda noite chiavam, ou talvez fosse apenas algumas épocas do ano. 
Do meu quarto dava para ver a casa e também ser vista. Às vezes dava medo, fantasias de medo até por conhecer as histórias dessa casa – “de abandono, violência e abusos sexuais de crianças e adolescentes” histórias escritas por Adelaide Carraro no livro Falência das Elites”, entre outros, pois ela viveu por um tempo no abrigo da Casa da Criança.

Sei que até hoje certa época do ano as corujas aparecem por ali.

Ainda há grandes quintais, lindos, preservados, outros nem tanto, mas ainda há jardins e quintais floridos, pelos quais corri quando criança, em outra ocasião continuo a historia dos quintais.
                                                  
                                                        Denise Boschetti



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Depoimento Decio de Moura


                                                                      (Foto:Denise Boschetti)


Meu nome é Decio de Moura, eu nasci em São Roque, no dia 27 de junho de 1922.
O nome do meu pai Hipólito Martins de Moura e mamãe Arpálice Zerbini de Moura.
Os meus avôs paternos eram Mariano Martins de Moura e Francisca Leopoldina de Jesus, o avô materno José Zerbini, italiano. 












(foto do acervo familiar)



Eu conheci os dois avôs o materno e também o paterno. O avô paterno veio da Europa, viveu e morreu em São Paulo.
Meu avo Zerbini, veio pro Brasil e também foi morar em São Paulo, na Alameda Eduardo Prado, nos Bairro Campos Elíseos, e minha mãe estudou e formou-se Professora, na Escola Caetano de Campos, na Praça da Republica, nessa época que ela deve ter conhecido meu pai, depois se casaram e vieram pra São Roque.


                                                                                       Foto:Denise Boschetti-

                                                                            Diploma de Formatura Arpálice Zerbini de Moura



Ele construiu essa casa pra ela, aqui na Rua Rui Barbosa 417, fez uma história bonita, os oito filhos nasceram aqui, eu sou o caçula.











Foto:Denise Boschetti





O meu pai estudou um pouco, mas não concluiu o curso de Direito, depois ele fez concurso pra coletoria estadual, depois federal e aposentou-se assim.
A origem do nome Moura é portuguesa, e minha mãe Arpálice nasceu na Itália, numa cidadezinha chamada Serravale. Então tenho uma mistura de italianos e portugueses.

Infância e juventude

O cotidiano em São Roque, as brincadeiras de criança, a diversão era em casa mesmo, às vezes eu jogava um pouco de bola, mas muito mal.
Eu gostava mesmo, era de nadar no Rio Aracaí, ia com o bando de moleques, os amigos na época, mas uma vez meu pai me deu um pito e eu não fui nunca mais.
Naquele tempo o Rio era limpo, dava pra tomar água se quisesse. Depois que a Brasital veio pra cá, começou a poluir.

Vida rural

Quando criança eu acompanhava muito papai, ele tinha dois sítios produtivos. O negócio foi crescendo e num certo momento eu precisei me dedicar de uma vez.
O sitio que eu morei por 10 anos, fica na estrada antiga da Ponte Lavrada, que fica próxima da saída do bairro do Taboão, são 6 km do centro ate lá. É o lugar que eu mais amo, desde menino eu ia e é onde escolhi viver a vida que sempre gostei cuidar de animais, de cavalos, participei de várias romarias.
Eu plantava, criava animais, vendia lenha, muita lenha. Primeiro vendíamos pra Sorocabana, depois pra companhias de Sorocaba, tinha demais; na época podia.
Eu achei bom parar, pois cortar uma mata daquela é pecado, hoje penso apenas em conservar.
Aqui na cidade, papai sempre teve animais na cocheira, porque era quase um meio de transporte, não tinha carro, não tinha nada. Isso era mais ou menos 1935, daí meu pai comprou um cavalinho pra mim.
Quando adulto, eu tinha vários cavalos, uns 10, 12 e sempre procurei ter animais de qualidade - Campo lindo, Manga-larga, Inglês, Puro sangue, Árabe, tive alguns, um preto muito bonito. Às vezes a gente cismava de ter certo animal e ia buscar em Sorocaba.
Da cidade para o sitio eu ia de charrete, porque automóvel tinha poucos; na Praça da Matriz devia ter uns oito carros de Praça (Taxi), inclusive o pai do Juca de Oliveira era um dos motoristas de taxi, o Tonico 60, porque ele só andava a 60 por hora.









foto: grupo do facebook
SOSpatrimoniohistoricoSR

 


                              As Romarias pra Pirapora do Bom Jesus

Eu era bem moço ainda, solteiro, mas acompanhava os irmãos mais velhos.
Nas romarias o Lívio Tagliassachi era meio o comando da turma, porque era um homem que se dava com todo mundo, tinha relação com todos, ricos e pobres.
Isso em 1940, nas romarias pra Pirapora ia muita gente, famílias inteiras, nunca houve estrago, violência. Os mais velhos comerciantes e outros como Sr. Chico Verani, Reinaldo Verani, Heitor, o Ermeri, todos participavam.





Foto:acervo grupo SOSPatrimoniohistoricoSR 2010

Hoje os filhos e netos continuam fazendo as romarias, mas é muito diferente, não vão tanto pela tradição, é muito diferente.




                                                            

 Herança musical

A família sempre se focou muito na música, foi uma influência muito forte, quase todos meus irmãos aprenderam música, era uma casa musical.
Minha irmã mais velha, Benedita de Moura, ia pra Europa, ela tocou piano com importantes concertistas; a outra irmã, Hortênsia de Moura, também foi exímia pianista.
Eu toco de ouvido, tive influência dos irmãos mais velhos e fui aprendendo as lições, ficava no porão ouvindo teoria, tenho bom ouvido e aprendi tudo, eu toco um pouco de piano, mas meus irmãos tocavam clarinete, saxofone.
Meu irmão Mariano foi professor do Borba, falecido há pouco tempo, é uma pena ele não ter registrado seu trabalho, pois ele era fora de serie no violão.

                                                                   Bandas

Na cidade nós também temos uma tradição de corporações musicais, tivemos três Bandas muito importantes.
Enrico Dell’acqua, fundador da fábrica de tecidos Brasital, sempre fortaleceu e ajudou os músicos sem apoio público, ele trouxe os instrumentos musicais da Itália para a Banda Conte di Torino, que começou no fim do século 19, em 1887, com imigrantes italianos que vieram trabalhar na Brasital.
Eu quando tinha entre 14 e 15 anos, em 1935/37, toquei na Banda Jazz Conte di Torino, cujo chefe era Vasco Barioni e os músicos - Nelo Gavazzi, Mauricio e Silvio Giusti, Orfeu, os irmãos Gallo e Sustene Barioni, ele tocava pistão, era primo do Vasco.
Todos morreram ficou só eu vivo. 

  









foto:acervo familiar






              Os ensaios eram na casa (abaixo) do Oswaldo Perino (acima) 
              e na casa de Vasco. 



                                                                                         Foto:Luis Guilherme C.Oliveira

Nós tocávamos no São Paulo Clube e fora de São Roque também, em Sorocaba, Osasco, São Paulo. Eu tocava Banjo tenor. Aqui na cidade a gente tocava quase que por amor, a um preço, que não era caro.





Foto: acervo familiar










 

 
A Conte di Torino tocou na festa do quarto centenário de São Paulo, em 1954. 






Foto: acervo familiar










 


Depois o nome da Banda passou a ser Corporação Musical Carlos Gomes, por uma lei na época do governo Getulio Vargas e teve sua sede na Rua Enrico Dell’acqua.
 

                                                                          Foto:acervo SOS PatrimonioHistoricoSR

A Banda Sete, que começou no dia Sete de Setembro em 1912, apoiava o Marechal Hermes da Fonseca, político. Ela era formada por músicos de São Paulo, do Rio de Janeiro e alguns daqui, Joaquim de Souza, Mario Alves e o Vicente de Almeida.
Eles tinham um arquivo enorme, importante, que sumiu e foi uma Banda muito importante no século 19, representando a cidade e o Estado de São Paulo.

E a Banda Liberdade, que mais projetou o nome da nossa cidade, quando ganhou o concurso de Bandas do interior no Jardim da Luz, em São Paulo. O meu pai foi um dos fundadores dessa Banda.
Então é uma tradição de música, de Bandas, que vêm se perdendo por falta de incentivo aos músicos e preservação do acervo.

Eu também ia aos Bailes no São Paulo Clube, que ficava ao lado do também extinto Bios Bar, na Rua Sete de Setembro. Tinha a Literária que era o Clube mais antigo, o prédio tem até hoje e fica na Praça da Matriz na esquina com a Rua 15 de Novembro.
Havia uma rivalidade positiva, entre os dois clubes, todo mundo era amigo, mas cada um tinha sua turminha. E mais tarde, da união da Literária com o São Paulo clube nasceu o São Roque Clube.

Casamento e filhos

Eu continuei trabalhando no sítio, me afirmando, fazendo aos poucos, construí uma casa muito boa, que está lá até hoje. A minha cabeça já pensava nas coisas pra muito tempo, tinha maturidade.
Aos 22 anos eu me casei com Antonieta Vicentina Mieiro, filha do Salvador Rodrigues Mieiro e Brasília Frizzo Mieiro.
Eu e minha mulher tínhamos a mesma idade, nascemos no mesmo mês e tínhamos só uma semana de diferença. Casei e fomos morar no sitio, ficamos lá uns nove ou 10 anos, a filha mais velha, Isa nasceu lá no dia 2 de setembro de 1946, o Decinho, meu filho já falecido, nasceu na chácara e Belinha (Maria Isabel) já nasceu na cidade, em 26 de novembro de 1957.
Plantávamos batata, cebola, feijão, pêra, muitas frutas. Eu reservei um pedaço de terra para plantação de uva, porque tinha ideia de fazer uma boa adega. O meu sogro me orientava um pouco, ele era vinhateiro, então eu fiz uma valeta, na forma que era necessário, até tive auxilio de um agrônomo pra me orientar e plantei e colhi muito bem, eu até tenho a folha (do livro) da produção registrada, isso foi no inicio dos anos 1950.
Depois os produtores menores, que faziam vinho quase artesanal, se aborreceram e resolveram parar.
Morando no sítio, um dia fui surpreendido por meu pai, que chegou lá de manhã e disse: “vim trazer uma notícia boa pra vocês, a Hortência foi nomeada no concurso e ela escolheu a cadeira no Ginásio de Ourinhos”- ela foi aprovada em primeiro lugar e tinha que ir embora e a casa da cidade ia ficar vazia, porque os outros irmãos também foram estudar fora, casaram, fizeram a vida deles em outras cidades.
Então, eu e minha mulher e os filhos, viemos morar nessa casa, com meus pais. A Antonieta, minha mulher costurava um pouco, mas ela cuidava mais da casa e dos filhos. Quando os filhos foram pra escola, eu ia e voltava todos os dias pra chácara e eles ficavam na cidade.
Hortência ficou cerca de cinco anos fora e depois voltou e viveu o resto da vida comigo, morreu em 2007, com 99 anos de idade, não perdeu a vaidade, tinha a mesma caligrafia firme, tocava Chopin de cabeça.





Foto:Denise Boschetti


Esse piano é o terceiro que papai comprou pra ela e está novo, bem conservado.





 


   Décadas de 1930/1940
 
Entre as décadas de 30 e 40 as residências, geralmente tinham estabelecimentos comerciais agregados, ao lado ou embaixo. Aqui na Rua Rui Barbosa, na esquina de cima tinha o Vezzoni, aqui ao lado da minha casa tinha o Alfredo Boschetti com açougue. Ao lado um empório do Quinzinho Justo da Silva, onde hoje é o consultório do Dentista Gazal e filhos; na outra esquina o Vitorio Tozzi com material elétrico e mais abaixo a venda de alimentos a granel do Nino.
Aqui em frente ao lado da casa da Ólida Maraccini havia algum comercio também depois foi quitanda. E mais lá embaixo a padaria dos Boschini, que tem até hoje.
Outros comércios importantes na época eram a loja de material de construção do Reinaldo Verani, perto da Igreja de São Benedito. Na praça da matriz tinha a Casa Assunta a Loja Vantajosa também.









Foto:acervo familiar
 


Naquele tempo se comprava o tecido, a peça ou um corte de vestido, um corte de casimira. Havia costureiras ótimas, profissionais como sua Maria Boschetti e também alfaiates bons. Aqui em casa algumas mulheres da família faziam as roupas, a Dirce Tozzi, por exemplo, a roupa era tão bem feita, que voce não sabia onde era o avesso de tão chuleada, arrematada.
A cidade foi crescendo muito, foi construído o Ginásio Horácio Manley Lane, nome do professor Lane, que depois veio a ser prefeito de São Roque e ele era muito interessado pela educação.

Rua Rui Barbosa

Até a década de 1940 a Rua Rui Barbosa era de Terra, a iluminação muito fraca. O prefeito Garfield Pereira Barreto é quem começou a calçar a rua, depois dele o Dr. Gentil de Oliveira também fez melhorias no calçamento, colocou paralelepípedos e depois outros, até que asfaltaram. Por ser uma rua central sempre passou procissão por aqui, os festejos.                                                                                       
                                                            foto: acervo familiar
 
A casa do Murilo Silveira foi feita depois da minha. A Casa dos Boschetti, eles fizeram a parte aqui de cima, a casa que era da dona Albertina de Oliveira, artista e parente do professor Epaminondas de Oliveira, infelizmente foi demolida e havia o Teatro São João, essas duas construções eram de taipa de pilão. 

 


Foto:acervo familiar



 






Todos os domingos pareciam dia de festa, os parentes de fora vinham, os primos, eles gostavam muito do meu sogro e tinha aquela fartura, muita fruta, um pomar maravilhoso.
Nós e os vizinhos também éramos como uma família, as mais antigas já morreram. São Roque sempre foi uma família, sempre tem um convite aqui, outro ali e ate hoje a família se reúne os mais jovens, a criançada e a casa fica cheia e alegre.
Quando meu filho Decinho, foi fazer faculdade, deixei que escolhesse o que queria, ele estudou Arquitetura e tinha uma visão de preservar as coisas bonitas da cidade.

Vida social

A vida social não era muita porque eu ficava muito no sitio, mas tinha o Bar da Cidade, o Bar Chic embaixo da Literária, que era da família Moreschi, eles compravam pernil do Alfredo Boschetti e preparavam, era um sucesso.
Lembro-me, que o Antonio Ermírio de Morais ainda era meninão, de calça curta, ele vinha com o avô Antonio Pereira Inácio, dono da Votorantin, nos fins de semana e desciam do carro, tomavam uma Caracu no Bar Chic e depois comiam pernil. Quando o Antonio Ermírio voltou aqui adulto, pra fazer campanha ele disse durante o discurso “aqui, na minha infância eu comi o melhor pernil do Brasil.”
O Bar Chic tinha comida muito boa, onde rico comia e o pobre também. 
  





Foto:acervo familiar

 








Ao lado tinha o Guarani, que era Bar e padaria, embaixo da casa do Barão, onde depois por um tempo foi à prefeitura, tinha o Rancho Alegre, e o Boschini também teve uma padaria e bar embaixo dessa casa.
Mais pra frente veio o Bar Estrela, depois desses o Tito Silva abriu o Bios Bar, que durou muitos anos, acho que até meados dos anos 80.

                                                                
                                                                    Vinho de São Roque
 
A produção de Vinho se destacou, o nosso vinho era um produto muito bom e a turma de produtores se entusiasmou. O vinho ainda era meio artesanal, não havia exigência como agora. Mas nosso vinho era muito valorizado.
As festas do vinho começaram acho que em 1938, a primeira foi no Largo dos Mendes e teve um acontecimento marcante. Um sujeito armado, que não sabia lidar bem com arma, bebeu um pouco e causou uma morte, o motivo foi acidental, tanto que não houve muito protesto porque todo mundo era conhecido e viram o que ocorreu.
As festas do vinho foram um marco pra cidade, com o passar dos anos passou a receber muitas pessoas, a produção foi crescendo na qualidade no valor, na preferência e muitas pessoas enriqueceram.



Foto:acervo familiar

No inicio as Festas recebiam pessoas importantes, políticos como Ademar de Barros, Carvalho Pinto entre outros e muitos artistas, que vinham se apresentar ou visitar a festa.
Depois fizeram as adegas na cidade, a Adega central e o movimento cresceu, o comercio do vinho evoluiu.
A partir de certo momento, por volta de 1975, no governo Geisel, algumas políticas favoreceram Jundiaí e o Rio Grande do Sul na produção de vinho e pra nós não houve mais incentivo, os vinhateiros começaram a repartir e vender chácaras e a produção entrou em declínio.
O Pennone tinha um produto extraordinário, foi até pra exportação, tinha diversos tipos-vinho espumante, champagne, diversos tipos de Vermouth, que ganhou premio de melhor Vermouth, por três anos seguidos.
 








foto:acervo/grupo facebook-SOS patrimonioHistoricoSR







As outras marcas de vinho que eram produzidos - Palmeiras, Canguera, Collo, Capuzzo, Patto.
As festas do vinho recebiam muitas pessoas de fora, era um movimento enorme na cidade, depois foi ficando complicado, as pessoas bebiam demais, faziam bagunça, uma vez quase quebraram meu portão. Na estrada Raposo Tavares tinham acidentes feios, então foi ficando difícil, a cidade não tinha estrutura para receber tantas pessoas e também não havia sido feito planejamento e assim as festas e a produção de vinho foram praticamente acabando.

Ritual das Festas de agosto

Antigamente na época da festa de agosto, me lembro bem, que todos punham as melhores roupas do mundo, o povo era vaidoso, alguns pintavam a frente da casa, punham flores, mas não havia tapetes ainda. Os tapetes foi Vasco Barioni, quem implantou, no começo íamos buscar flores, rosas, folhas verdes pra por no chão e a procissão passar, até hoje passa por aqui.

Até os anos 1960, as nossas três super Bandas, acompanhavam a procissão, a Liberdade, Sete de Setembro e a Conte di Torino. Hoje em dia eu acho um desrespeito, colocam música gravada. Falta incentivo aos músicos de banda.

O inicio da Festa de São Roque é marcado pela novena. No dia 6 de agosto tem a Entrada dos Carros de lenha. Eu puxei muita lenha, com a carroça e os burros. Os carros de lenha vinham de todos os bairros, o circuito levava em torno de 90 minutos pra passar, não era rápido. Hoje em dia vêm com caminhão, dão areia, tijolo, qualquer material, não é mais como a tradição.

                             A origem da entrada dos carros de lenha






foto:acervo familiar
 

A história que eu conheço é que, no final do século 19, teve um surto de febre amarela na cidade, o Padre Cunha era o Vigário na época.
Meu pai juntou-se a outras pessoas pra trazerem médicos, de São Paulo, também estudantes de medicina pra ajudar, porque não tinha médicos suficientes aqui em São Roque.
Não havia lugar onde isolar os doentes, que ficaram alojados em alguns locais, um pouco na igreja, um pouco na Brasital. Meu pai ficou no meio dos doentes e não pegou a febre.
Naquele ano, devido a isso não teve Festa de agosto, os sitiantes trouxeram lenha e doaram, alguns doavam animais, o padre vendeu tudo pra arrecadar dinheiro e como a imagem de São Roque, que havia na igreja Matriz era muito feia, grosseira, ele utilizou o dinheiro para comprar uma nova imagem que encomendou de Paris. É a mesma imagem de São Roque, que está até hoje e é linda. Então a oferta de lenha se fortaleceu e virou uma tradição.
Depois da entrada dos carros de lenha vinham as quermesses, onde preparávamos leitoas pra vender, leiloar.
Os caixeiros viajantes traziam bijuterias finas, perfumes, peças de tecido, doces e utensílios, pra vender nos dias da Festa. Tinham muitos negociantes da Rua Santa Ifigênia, em São Paulo, que se davam com papai e vinham, naquele tempo com um caminhãozinho, acho que Ford bigode e cada um trazia uma mercadoria diferente. Atualmente as coisas que vendem na Festa, voce compra em qualquer lugar, não tem nada de diferente.

foto:acervo familiar

Os festeiros, geralmente eram pessoas mais velhas da cidade, que eram homenageadas. Todas as famílias faziam muitos doces, a vó do Zé do Nino era especialista em fazer um doce que hoje não se vê mais. O mês todo a cidade ficava envolvida na preparação da festa de Agosto. Nas procissões as pessoas vinham pagar promessas ao Santo, até hoje muitas pessoas fazem isso.



foto:acervo SOSPatrimonio historico SR(grupo do facebook)




Terminava a Festa do vinho em Julho e começava a Festa de São Roque em Agosto.


                                                                        
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Eu nunca quis sair de São Roque, quando fiquei moço meus irmãos queriam me levar pra fora, mas eu nunca quis. Sou agradecido ao meu padroeiro, por tudo que recebi.
Peço que as pessoas valorizem essa terra. Dar esse depoimento pro seu Blog mostra que voce valoriza nossa historia também.
O sanroquense recebe bem os visitantes, nós devemos valorizar o que nossos antepassados deixaram.






                                                                          foto: acervo familiar


Meu filho Decio depois que se formou restaurou essa casa e mais recentemente nós já fizemos outras melhorias.
Minha filha Bela (acima com o esposo Bruno) é amorosa e respeitosa e mantém as tradições e respeito pela nossa historia e faz o máximo pra conservar essa casa, os objetos.
Eu, do meu modo de vida fui e sou feliz.
 

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Depoimento de Odilon Boschetti




Meu nome completo é Odilon José Boschetti, nasci dia 9 de maio de 1933, em São Roque.
O nome do meu pai é Alfredo Boschetti e da minha mãe Vitória Frizzo Boschetti.
Meus avós paternos chamavam-se, Ângela Tessari Boschetti e Felippe Boschetti, tinham um Armazém de Secos e Molhados na Rua Rui Barbosa ao lado de onde ainda existe a casa do meu irmão Roque, já falecido e minha cunhada Iracema.
Meus avós maternos eram Amália e Pedro Frizzo, não me recordo agora qual era a atividade profissional deles.
O nome Boschetti, origina-se do norte da Itália, na cidade de Padova, se não me engano.

A atividade profissional do meu pai era comerciante, por muitos anos foi açougueiro. Essa época do Açougue, ele muitas vezes levava encomendas para os fregueses, ia até o Matadouro da cidade pra abater os animais, principalmente carne de porco, a que mais atendia a freguesia e também derivados da carne de porco- lingüiça, etc., tinha grande freguesia nesse setor.
O açougue ficava na Rua Rui Barbosa 407, ligado a casa. O Matadouro era distante do centro, às vezes eu ia junto. Ele abatia os animais e realizava as medidas necessárias após o abate para trazer a carne para a venda no açougue.





Foto: Matadouro Municipal-acervo SOSPatrimoniohistoricoSR







Ele teve esse comércio de carnes até 1950 mais ou menos. Depois ele trabalhou como funcionário público Estadual num posto de Pedágio de uma das nossas rodovias, a Raposo Tavares, onde se aposentou.

Família Boschetti

Nós morávamos na Rua Rui Barbosa 407 - meus pais, eu o meu irmão mais velho Helio e posteriormente, meu irmão mais novo Roque. Também a Tia Matilde, irmã do meu pai, que durante muito tempo fez parte da nossa família, porque o marido havia ido pra Itália e ela não quis voltar com ele. A Tite, como carinhosamente a chamávamos, teve grande influência em nossa educação, pois ela se interessava muito pelas crianças da família. E também era costume, que amigos, irmãs e cunhados dos meus pais passassem um tempo conosco. A casa era grande, e tinha uma espécie de conjugado ao fundo, onde um casal, por exemplo, podia ficar mais a vontade.
Além disso, havia um grande quintal com árvores, horta, uma espécie de rancho coberto de zinco pra guardar materiais, sucatas e durante um tempo depois, que fechou o açougue, meu pai ainda criava alguns animais no quintal pra abater no natal, presentear os amigos. Isso faz muito tempo, ainda não havia problemas, a cidade não era tão urbanizada.
Também havia um porão e uma área coberta, onde ficava uma grande mesa de madeira com um cilindro numa das pontas, para afinar as massas, que eram todas feitas em casa, manualmente- macarrão, ravióli, capeletti....


foto:acervo Decio de Moura

As brincadeiras da infância eram- futebol na rua da nossa casa e brinquedos normais da criançada. Nós também íamos ao Cine Central, posteriormente veio a ter o cine São José, mas recordo-me bem do Cine Central, onde passamos a assistir às primeiras sessões cinematográficas. Eu me lembro dos filmes em série, de Faroeste e outros filmes em série que a criançada acompanhava. Sempre tivemos muitos amigos, quando criança e adolescente.





Foto do acervo de Luis Guilherme de Oliveira








Quando criança, estudei no Grupo Escolar Bernardino de Campos, onde fiz até o quarto ano. Posterior a isso eu parei de estudar por um tempo e só vim retomar os estudos bem mais tarde e continuei até formar-me Advogado.

                                            foto: acervo Decio de Moura

 
Da cidade eu me recordo mais das tradições festivas e religiosas, a Festa do Padroeiro, que acontece todos os anos no dia 16 de Agosto, as procissões religiosas.
Já numa fase mais adulta, a partir de uns 20 anos, lembro-me dos Carnavais de rua, que eram muito animados e bem organizados.
Ainda na juventude nós também gostávamos de jogar futebol, tênis de mesa, não tínhamos computador, eram as rádios a grande novidade, as emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro, que nós ouvíamos frequentemente.

No morro do Saboó, me lembro de ter ido, pois era local de freqüência turística e também íamos a Capela de Santo Antonio, que ainda hoje está lá.
Capela de Santo Antonio pintura de Murilo Silveira
foto:Denise Boschetti



Nós já tínhamos alguns locais que atraíam turistas pra cidade. Também o Cruzeiro, íamos em grupo, fazer caminhadas, aos domingos fazíamos pic nic na Cachoeira com a família, minha mãe e as mulheres dos meus irmãos e a minha, preparavam lanches pra levar e passávamos a tarde toda lá, com as crianças. Eu tinha um Jeep na época, era muito bom.

Rádio Cacique

Na juventude, eu já era locutor do serviço de alto-falantes da cidade, que eram instalados na Praça da Matriz e nós fazíamos a locução a partir de um estúdio, fazíamos propaganda e outras comunicações.
Nos anos 50, quando a Rádio Cacique veio pra cidade, fui convidado a ser locutor e o fui por muitos anos. Foi um período muito interessante porque a Rádio foi uma grande novidade no setor de comunicação para cidade e para nós também, que passamos a ser profissionais de comunicação. Sem dúvida a Rádio nos tornou conhecidos em todo o município, éramos as pessoas que faziam a comunicação profissional da cidade.
A publicidade que fazíamos era de todos os estabelecimentos comerciais, de algumas profissões. Não me recordo agora de nenhuma propaganda pra citar.
Os estúdios da Radio Cacique ficavam no Edifício Costa, na Avenida Tiradentes, era um edifício na época relativamente novo, de três andares e os estúdios ficavam num desses andares do prédio.
A Rádio tinha mais ou menos, 100 km de raio de ação e os programas eram culturais, sertanejos, informativos, noticiários locais e internacionais.
Eu trabalhei em horários diferentes, era um dos locutores, tinha mais dois ou três, eu fazia locução comercial, informativos, aniversários, o que aparecesse a gente tinha que fazer.

Juca de Oliveira

O Juca de Oliveira é uma pessoa pela qual, nós da cidade, temos grande respeito e admiração.
Durante algum tempo, juntamente com outros amigos, passamos a morar na cidade de São Paulo, numa casa muito grande, que ele alugou com seus pais e nos deram guarida. Nessa casa então, moramos alguns anos, época que o Juca começou sua carreira de grande ator e autor que ele é hoje, do nosso teatro e televisão, tenho muito orgulho de ser amigo desse grande artista.

Foto do acervo da familia do Juca de Oliveira

Eu fiquei algum tempo morando em São Paulo, porque estava me preparando para fazer um estágio numa seguradora, quando terminei, voltei para São Roque.
Casei-me em 1959 e ainda moramos alguns anos em São Roque, na Rua Enrico Dell’acqua, próximo à casa do meu irmão mais velho, Hélio e eu fiquei lá até o final de 1964, depois mudei com a família para Campinas, onde me estabeleci e moro até hoje.
Minha esposa, Maria Elisa, conheci em São Roque, ela é parenta do Álvaro Rufino, sobrinha da esposa dele, a Dona Lurdes, mas o meu casamento foi na cidade de São Paulo na Igreja Nossa Senhora de Fátima no Sumaré, pois ela morava com os pais nesse Bairro.
Tivemos quatro filhos, o os dois mais velhos nasceram em São Roque, Wagner e a Wania, a Walkiria e Wladimir, já nasceram em Campinas.

Serenatas

Eu tinha amigos que gostavam de fazer serestas e eu os acompanhava, o Fádlo Salim, o Paschoal Rabechini e alguns outros, muitos não vejo há muito tempo!
Aos sábados à noite nós fazíamos serenata, saíamos por volta da uma hora da manhã e cantávamos em frente de algumas casas, de quem nós sabíamos, gostavam de serenatas.
As canções eram do Silvio Caldas, Francisco Alves, próprias de serestas, isso foi no início da década de 1960.

Festas do Vinho

Eu sempre trabalhei nas Festas do Vinho, no setor de comunicação, nós fazíamos o serviço de alto-falantes, para transmitir recados, anúncios e também anunciar os shows que eram apresentados durante as festas.
Os artistas que vinham se apresentar na cidade eram bem conhecidos, como- Agostinho do Santos, atores e atrizes, Débora Duarte, Lima Duarte, artistas e políticos, muitos passaram pelas Festas do Vinho.
O público vinha atraído pelo vinho da cidade que era muito bom, conhecido, e a festa era armada num local um pouco afastado do centro, com barracas das diferentes marcas de vinhos, que em maioria, eram de produção local. Havia também comida como bacalhau, salgados e as pessoas experimentavam os vinhos e comiam.
Lembro-me que o Vinho Capuzzo, durante uns anos ganhou o primeiro premio, Vinhos Collo, Vinhos Maravilha, são tantas outras marcas que não me recordo mais.
Havia concursos para eleger os melhores vinhos do ano que eram reconhecidos publicamente por um selo de qualidade.

Década de 1960

Um acontecimento muito importante, que me recordo, é que, como eu participava da organização das Festas do Vinho, num desses anos vim a conhecer o grande cantor Joel de Almeida, da dupla - Joel e Gaúcho.
Eu e o Joel convivemos algum tempo por ocasião da festa e eu colaborei com ele, na composição de uma das suas marchas carnavalescas, que se chama Sempre é carnaval e o Joel numa atitude íntegra e honesta reconheceu a minha parceria nessa composição. O disco foi gravado pela gravadora Odeon e consta que nós somos os autores. A marchinha tem uma letra simples (link para ouvir e letra abaixo):

http://youtu.be/QZPXrVeZKOc

Letra
Joel de Almeida e Odilon Boschetti
Sempre é carnaval, sempre é carnaval
Vamos embora pessoal!
Sempre é carnaval
Muita alegria pessoal!

Linda morena que está comigo
Na terça-feira de carnaval,
Na quarta-feira estará distante/
Não fique triste
Porque sempre é carnaval!


G U S e os Clubes da cidade

Lembro-me também da fundação do nosso querido Grêmio União Sanroquense (GUS), da qual fizemos parte.
O Grêmio foi iniciado por um grupo de jovens que queria constituir um Clube esportivo, das mais diversas modalidades para a juventude sanroquense. Tinha vôlei, basquete, natação.
Os precursores foram Mário Luis Campos de Oliveira, que depois veio a ser prefeito, eu, meu irmão Helio Boschetti e outros, Hélio Villaça, muitos amigos, fizemos um movimento e colaboramos para sua construção.
Tínhamos também o São Paulo Clube, que depois, fundiu-se com a Literária e tornou-se o São Roque Clube. A gente participava de todas as festividades, os carnavais, os bailes das festas de Agosto, que eram bailes comemorativos. Eu freqüentava mais o São Paulo Clube, os bailes e festas de final de ano, a gente participava, usava traje passeio, trajes mais formais, como Smoking, eventualmente. Eu tive algumas namoradas na cidade (risos).

Comércio


Durante alguns anos eu tive duas mercearias na cidade, uma na Rua Rui Barbosa e outra na Avenida Tiradentes, eram armazéns de secos e molhados, vendiam gêneros alimentícios a granel, os armazéns ou mercearias foram os precursores dos supermercados.
Tudo isso na década de 60, depois me mudei para Campinas.

A cidade, política e recordações

Recordo-me da casa do Barão de Piratininga, ela ficou um tempo desocupada e depois foi demolida. Antes de ser o prédio da Prefeitura era habitada por uma família, que não me lembro o nome e tinha um estabelecimento comercial na parte de baixo, o Rancho Alegre.

Também participava como apresentador das Campanhas políticas, a que me recordo muito, foi a campanha para primeira gestão do Mário Luis, eu gravei discos de publicidade da campanha do Mário.
Foto do acervo de Luis Guilherme de Oliveira




Nós aproveitamos uma música conhecida e fizemos um texto em cima dessa melodia. A minha participação foi na comunicação da campanha. Devo ter isso gravado, preciso procurar.

É uma grande emoção falar de São Roque, nossa querida terra natal e naturalmente como terra natal nos toca a sensibilidade sempre que lembramos da nossa vida nessa cidade.
Eu sou o irmão do meio, meus dois irmãos já faleceram, saí de São Roque há muito tempo e não me lembro de tantas coisas, nem da ordem dos acontecimentos ao certo.

Viajei um pouco pela Europa, passei em frente à cidade de Montepellier, mas não pude ir, gostaria muito de ter conhecido a cidade onde São Roque nasceu, foi possível apenas contemplar uma vista da cidade, que era mais abaixo de onde nós estávamos.


foto:wikipedia-vista da cidade de Montpellier



Mensagem

A minha mensagem pra quem ler esse depoimento é de gratidão e saudade. Sempre que falo da nossa querida São Roque, aos sobrinhos e aos grandes amigos, que ainda tenho lá, alguns já partiram deste mundo, mas para quem viveu em São Roque, sente um toque de emoção e vida por ser nossa terra natal.
Eu estou há muito tempo fora, vejo que a cidade cresceu muito no setor de turismo, mas naturalmente é importante o poder público cuidar e preservar a história da cidade.
Quando vivi em São Roque, foi uma época muito atuante e feliz.
Ainda tenho muitos amigos e conhecidos na cidade o Zé do Nino, o Chico Bio, o Ivo Boschini e muitos outros, muitos deles também não moram mais lá. Eu vou, principalmente, nas festas de Agosto, quando nos reencontramos e reunimos na casa do Zé do Nino, é uma reunião muito alegre, cantamos e recordamos momentos maravilhosos da nossa vida Sanroquense.
Eu faço questão de ir todos os anos à festa de São Roque.