Meu
nome é Murilo Silveira, nasci em 29 de julho de 1921, em São Roque na Rua 15 de
novembro.
Meus
pais Irineu de Campos Silveira, que era pintor e minha mãe Maria Josefina Verani.
Meus
avós maternos Pedro Verani e Adélia Verani e os avós paternos Argemiro Silveira
e Maria Benedita de Campos.
Meu
avô paterno era advogado, promotor em Jabuticabal, Argemiro Silveira e minha
avó Maria Benedita era doméstica. O avô materno era negociante, tinha casa de Comércio.
A
origem do nome Verani, é italiana. Meu avô veio da Itália, praticamente sozinho
e a família Silveira veio de Sorocaba.
Família
A
família Verani, de italianos era uma família grande, viviam bastante alegres,
minha mãe tinha um irmão, o Reinaldo Verani, que era um show, uma figura
festiva aqui em São roque.
Minha
mãe casou duas vezes, quando meu pai morreu ela casou-se com um primo. Os filhos
do primeiro casamento, eu Murilo e Irineu (Zeneu) e do segundo casamento,
Vilma, Maria Helena e Manduca, infelizmente faleceu.
Infância
Quando
meu pai morreu minha avó fez essa casa na Rua Rui Barbosa, para nós, em 1927. Dormiam
aqui nesse cômodo, eu, Zeneu e minha avó, pra mim era o melhor cômodo da casa,
tenho grandes recordações foi um tempo muito feliz.
Frequentei
o Grupo Dr. Bernardino de Campos, onde as brincadeiras com os colegas eram Barra-manteiga, pula-cela. Jogava
futebol também com a molecada no antigo Campo de São Bento, Clube Atlético São
Bento, que ficava no centro, onde hoje é a Avenida marginal, que atravessou o
campo na época da sua construção, era um clube tradicional, isso entre 1930 e
40. Nessa época de infância tinha amizades, sinceras, eu me lembro desse tempo
com muita alegria.
Fui
fazer o ginásio em São Paulo no Liceu Coração de Jesus, porque minha mãe, viúva,
casou-se novamente e a família toda foi morar em São Paulo porque o segundo marido
dela trabalhava lá.
Moramos
por dois anos na Vila Mariana, na Rua José Antônio Coelho, lá a gente brincava
muito de patinação, tinha muitos ringues de patinação na época. Depois mudamos
para o Bairro de Perdizes e estudávamos na Avenida São João, eu e meu irmão estudamos
sempre juntos, estudamos no externato Coração de Jesus, que era uma escola
muito importante.
Foi
uma fase muito especial, graças à atuação de um amigo muito especial também
Ademar Biar, que era nosso diretor do futebol, do ping-pong e foi uma vida
muito esportiva e agradável. Nós disputávamos com os Colégios das Perdizes e da
Pompéia, Bola ao cesto, ping-pong e futebol.
Depois
do ginásio fomos morar numa rua que hoje é a Avenida São João e minha avó gostaria
que nós fôssemos dentistas, eu nem tinha muita vocação pra isso, mas felizmente
me dei bem, meu irmão infelizmente não se deu bem com a profissão porque ele
ficou doente, trabalhava, mas não gostava.
Estudei
na Faculdade de odontologia da USP na Rua Três Rios. Foi uma fase muito boa e
nós continuávamos tendo vida esportiva e disputando com outras escolas.
A
cada 15 dias e nas férias, vínhamos pra São Roque porque tínhamos nossa avó
Maria Verani, que era muito apegada e os outros familiares. As férias eram
muito boas, íamos aos bailes de Agosto, pois já éramos mocinhos, a festa de
agosto era sagrada e vínhamos porque tínhamos essa casa e tinha que
conservá-la, abrir pra arejar.
Eu
me adaptei muito bem com a profissão e já no terceiro ano de faculdade eu fui trabalhar
com um dentista, que foi um grande amigo, Arnaldo Bartolomeu. Trabalhei muito
tempo e como auxiliar dele eu ganhava muito bem. Infelizmente ele morreu pelo
abuso do raios-X, radioatividade, teve câncer. Depois que fui trabalhar sozinho,
montei meu consultório na Alameda Nothman, mas ganhava muito menos.
Volta pra São Roque
Chegou
uma fase em São Paulo, que os prédios não alugavam mais pra dentistas, por
problemas de encanamento e também porque os pacientes cuspiam nas escadas e nos
elevadores, então não conseguíamos alugar um consultório porque éramos
dentistas, aí eu voltei pra São Roque, em 1945 e viemos morar novamente nessa
casa.
Eu
e meu irmão trabalhávamos primeiro onde era a casa da Dona Marucha, onde hoje é
a Caixa Econômica e depois mudamos para o prédio do Pontes. Foi uma época de
alegria trabalhar junto com meu irmão, mas daí meu irmão montou um consultório na
casa dele e eu fiquei sozinho, o aluguel ficou caro pra um só, então eu fiz o consultório
aqui ao lado da minha casa. Mas não foi bom separar do meu irmão, pra nenhum
dos dois, acho que nascemos pra trabalhar juntos, ambos pioraram.
Meu
pai era diretor da Brasital e eu fui escolhido pra trabalhar como dentista dos
operários da Brasital, foi muito bom, passei a ganhar mais. Fiz muitas amizades,
eles ficavam a vontade, eram pessoas simples e boas, tenho ótimas recordações
desse tempo, isso por volta de 1952.
Namoro e casamento
O
segundo marido da minha mãe era irmão da mãe da Rosa, minha esposa e a gente já
se conhecia, já tínhamos laços familiares. Começamos a namorar numa Festa de
Agosto, no Baile e eu gostava muito de dançar e aí tirei-a pra dançar e começou
o amor no meu coração. Namoramos e nos casamos em 1949, faz tempo heim! Viemos morar
aqui, a casa foi reformada duas vezes e quando vim morar aqui, depois de um tempo
também fiz outra reforma e fiz um consultório pequeno aqui.
Vida social e familiar
Brincadeiras
na Literária, às vezes íamos ao cinema na segunda seção, mas era mais dançar mesmo,
não tinha muito que fazer. A família grande sempre se reunia.
Primeiro
filho, Murilinho nasceu em novembro de 1950 e Paulo Rubens nasceu em Julho de
1955. Murilinho é professor de matemática e Paulo engenheiro mecânico. Murilinho
mora num sitio, que era da família da Rosa.
Começou
como um desafio, eu gostava de pintar, mas não achava tempo, meu irmão que era
muito agarrado comigo me deu uma caixa de tintas e disse “faz o que você gosta”
e me dei muito bem.
Meu
primeiro quadro ficou uma beleza, talvez hoje eu não fizesse tão bem.
Continuei
depois me aposentei e me dediquei mais à pintura. Tanto que quando fui homenageado,
recebi a medalha do Barão de Piratininga, eu pensei que era pelo meu trabalho
de pintor, mas fui homenageado como cidadão são-roquense.
Tive
quatro professores de pintura, muito bons. Aqui aprendi a pintar com um grande
pintor da Igreja, o Pedro Gentilli e aprendi muito com ele. Meus temas
preferidos são ruas e casas, meus primeiros quadros eram casarios, modéstia à
parte eu pinto bem casarios. Expus meus quadros na Pça. da Republica em São Paulo.
A
Capela de Santo Antônio e a Igreja de São Benedito, foram as obras que se
destacaram, venderam todas. Aqui em São Roque eu e o capitão Jorge da aeronáutica,
ficamos amigos e ele também gostava muito de desenho e pintura, então arranjamos
um grande pintor como professor, em Sorocaba, Carlos Augusto Cardoso formado na
escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e estudamos dois anos com ele e eu
melhorei muito meu trabalho. Meu atelier era aqui em casa mesmo, no começo eu ia
ao local, por exemplo, ia na Capela de Santo Antônio e pintava lá, mas depois
por fotografia. Eu comecei a pintar a capela graças ao um pintor santista, que
também foi meu professor, Paulo Siqueira, aprendi com ele pintar do natural.
Eu
convivia muito com o Franco Mazzoto, inclusive fomos juntos vender os quadros
na Pça da Republica, por dois ou três anos seguidos, todos os domingos.
Aqui
fiz uma exposição no São Roque Clube, que teve grande sucesso, vendi todos os
quadros expostos. Atualmente é mais difícil vender.
Eu
me encontrei na pintura, pra mim era uma grande honra ser pintor. Eu sempre
desenhei bem, gostava e se não tivesse feito odontologia teria estudado pintura.
Em
São Roque eu gostei muito de ser festeiro em 1954, com o Vasco Barioni e esposa
e pra mim foi uma grande honra, pois eu achava que era o melhor do que qualquer
outra coisa ser festeiro de São Roque, e nós quatro fizemos uma grande festa.
Gastei muito, mas fizemos uma grande festa, promovemos um show, jantar pros
artistas. A ideia era reviver festas antigas e mais por sonho de Vasco,
representamos a Cavalhada, deu muito trabalho, mas foi muito bem realizado.
Socialmente
era uma grande honra ser festeiro, porque a gente percorre a cidade toda e faz
muitas amizades, ficamos muito respeitados, as pessoas nos encontram na rua e
ajudam com dinheiro para o livro de ouro.
Mensagem
Sinto-me
satisfeito e uma honra deixar documentado a memória da minha passagem nessa
vida, é interessante.
A
pintura pra mim é uma realização, mesmo mais velho eu ainda me arrisco, mexo em
alguns quadros antigos.
Agradeço
essa oportunidade.
Fotos, edição e entrevista: Denise Boschetti