segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Depoimento de Murilo Silveira

                                   Depoimento de Murilo Silveira




Meu nome é Murilo Silveira, nasci em 29 de julho de 1921, em São Roque na Rua 15 de novembro.
Meus pais Irineu de Campos Silveira, que era pintor e minha mãe Maria Josefina Verani.
Meus avós maternos Pedro Verani e Adélia Verani e os avós paternos Argemiro Silveira e Maria Benedita de Campos.
Meu avô paterno era advogado, promotor em Jabuticabal, Argemiro Silveira e minha avó Maria Benedita era doméstica. O avô materno era negociante, tinha casa de Comércio.
A origem do nome Verani, é italiana. Meu avô veio da Itália, praticamente sozinho e a família Silveira veio de Sorocaba.

Família

A família Verani, de italianos era uma família grande, viviam bastante alegres, minha mãe tinha um irmão, o Reinaldo Verani, que era um show, uma figura festiva aqui em São roque.
Minha mãe casou duas vezes, quando meu pai morreu ela casou-se com um primo. Os filhos do primeiro casamento, eu Murilo e Irineu (Zeneu) e do segundo casamento, Vilma, Maria Helena e Manduca, infelizmente faleceu.

Infância

Quando meu pai morreu minha avó fez essa casa na Rua Rui Barbosa, para nós, em 1927. Dormiam aqui nesse cômodo, eu, Zeneu e minha avó, pra mim era o melhor cômodo da casa, tenho grandes recordações foi um tempo muito feliz.
Frequentei o Grupo Dr. Bernardino de Campos, onde as brincadeiras com os colegas eram Barra-manteiga, pula-cela. Jogava futebol também com a molecada no antigo Campo de São Bento, Clube Atlético São Bento, que ficava no centro, onde hoje é a Avenida marginal, que atravessou o campo na época da sua construção, era um clube tradicional, isso entre 1930 e 40. Nessa época de infância tinha amizades, sinceras, eu me lembro desse tempo com muita alegria.
Fui fazer o ginásio em São Paulo no Liceu Coração de Jesus, porque minha mãe, viúva, casou-se novamente e a família toda foi morar em São Paulo porque o segundo marido dela trabalhava lá.
Moramos por dois anos na Vila Mariana, na Rua José Antônio Coelho, lá a gente brincava muito de patinação, tinha muitos ringues de patinação na época. Depois mudamos para o Bairro de Perdizes e estudávamos na Avenida São João, eu e meu irmão estudamos sempre juntos, estudamos no externato Coração de Jesus, que era uma escola muito importante.
Foi uma fase muito especial, graças à atuação de um amigo muito especial também Ademar Biar, que era nosso diretor do futebol, do ping-pong e foi uma vida muito esportiva e agradável. Nós disputávamos com os Colégios das Perdizes e da Pompéia, Bola ao cesto, ping-pong e futebol.
Depois do ginásio fomos morar numa rua que hoje é a Avenida São João e minha avó gostaria que nós fôssemos dentistas, eu nem tinha muita vocação pra isso, mas felizmente me dei bem, meu irmão infelizmente não se deu bem com a profissão porque ele ficou doente, trabalhava, mas não gostava.
Estudei na Faculdade de odontologia da USP na Rua Três Rios. Foi uma fase muito boa e nós continuávamos tendo vida esportiva e disputando com outras escolas.
A cada 15 dias e nas férias, vínhamos pra São Roque porque tínhamos nossa avó Maria Verani, que era muito apegada e os outros familiares. As férias eram muito boas, íamos aos bailes de Agosto, pois já éramos mocinhos, a festa de agosto era sagrada e vínhamos porque tínhamos essa casa e tinha que conservá-la, abrir pra arejar.
Eu me adaptei muito bem com a profissão e já no terceiro ano de faculdade eu fui trabalhar com um dentista, que foi um grande amigo, Arnaldo Bartolomeu. Trabalhei muito tempo e como auxiliar dele eu ganhava muito bem. Infelizmente ele morreu pelo abuso do raios-X, radioatividade, teve câncer. Depois que fui trabalhar sozinho, montei meu consultório na Alameda Nothman, mas ganhava muito menos.

Volta pra São Roque

Chegou uma fase em São Paulo, que os prédios não alugavam mais pra dentistas, por problemas de encanamento e também porque os pacientes cuspiam nas escadas e nos elevadores, então não conseguíamos alugar um consultório porque éramos dentistas, aí eu voltei pra São Roque, em 1945 e viemos morar novamente nessa casa.




Eu e meu irmão trabalhávamos primeiro onde era a casa da Dona Marucha, onde hoje é a Caixa Econômica e depois mudamos para o prédio do Pontes. Foi uma época de alegria trabalhar junto com meu irmão, mas daí meu irmão montou um consultório na casa dele e eu fiquei sozinho, o aluguel ficou caro pra um só, então eu fiz o consultório aqui ao lado da minha casa. Mas não foi bom separar do meu irmão, pra nenhum dos dois, acho que nascemos pra trabalhar juntos, ambos pioraram.
Meu pai era diretor da Brasital e eu fui escolhido pra trabalhar como dentista dos operários da Brasital, foi muito bom, passei a ganhar mais. Fiz muitas amizades, eles ficavam a vontade, eram pessoas simples e boas, tenho ótimas recordações desse tempo, isso por volta de 1952.

Namoro e casamento

O segundo marido da minha mãe era irmão da mãe da Rosa, minha esposa e a gente já se conhecia, já tínhamos laços familiares. Começamos a namorar numa Festa de Agosto, no Baile e eu gostava muito de dançar e aí tirei-a pra dançar e começou o amor no meu coração. Namoramos e nos casamos em 1949, faz tempo heim! Viemos morar aqui, a casa foi reformada duas vezes e quando vim morar aqui, depois de um tempo também fiz outra reforma e fiz um consultório pequeno aqui.




Vida social e familiar

Brincadeiras na Literária, às vezes íamos ao cinema na segunda seção, mas era mais dançar mesmo, não tinha muito que fazer. A família grande sempre se reunia.
Primeiro filho, Murilinho nasceu em novembro de 1950 e Paulo Rubens nasceu em Julho de 1955. Murilinho é professor de matemática e Paulo engenheiro mecânico. Murilinho mora num sitio, que era da família da Rosa.

                                         Carreira de pintor




Começou como um desafio, eu gostava de pintar, mas não achava tempo, meu irmão que era muito agarrado comigo me deu uma caixa de tintas e disse “faz o que você gosta” e me dei muito bem.
Meu primeiro quadro ficou uma beleza, talvez hoje eu não fizesse tão bem.
Continuei depois me aposentei e me dediquei mais à pintura. Tanto que quando fui homenageado, recebi a medalha do Barão de Piratininga, eu pensei que era pelo meu trabalho de pintor, mas fui homenageado como cidadão são-roquense.
Tive quatro professores de pintura, muito bons. Aqui aprendi a pintar com um grande pintor da Igreja, o Pedro Gentilli e aprendi muito com ele. Meus temas preferidos são ruas e casas, meus primeiros quadros eram casarios, modéstia à parte eu pinto bem casarios. Expus meus quadros na Pça. da Republica em São Paulo.
A Capela de Santo Antônio e a Igreja de São Benedito, foram as obras que se destacaram, venderam todas. Aqui em São Roque eu e o capitão Jorge da aeronáutica, ficamos amigos e ele também gostava muito de desenho e pintura, então arranjamos um grande pintor como professor, em Sorocaba, Carlos Augusto Cardoso formado na escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e estudamos dois anos com ele e eu melhorei muito meu trabalho. Meu atelier era aqui em casa mesmo, no começo eu ia ao local, por exemplo, ia na Capela de Santo Antônio e pintava lá, mas depois por fotografia. Eu comecei a pintar a capela graças ao um pintor santista, que também foi meu professor, Paulo Siqueira, aprendi com ele pintar do natural.



Eu convivia muito com o Franco Mazzoto, inclusive fomos juntos vender os quadros na Pça da Republica, por dois ou três anos seguidos, todos os domingos.
Aqui fiz uma exposição no São Roque Clube, que teve grande sucesso, vendi todos os quadros expostos. Atualmente é mais difícil vender.
Eu me encontrei na pintura, pra mim era uma grande honra ser pintor. Eu sempre desenhei bem, gostava e se não tivesse feito odontologia teria estudado pintura.
Em São Roque eu gostei muito de ser festeiro em 1954, com o Vasco Barioni e esposa e pra mim foi uma grande honra, pois eu achava que era o melhor do que qualquer outra coisa ser festeiro de São Roque, e nós quatro fizemos uma grande festa. Gastei muito, mas fizemos uma grande festa, promovemos um show, jantar pros artistas. A ideia era reviver festas antigas e mais por sonho de Vasco, representamos a Cavalhada, deu muito trabalho, mas foi muito bem realizado.
Socialmente era uma grande honra ser festeiro, porque a gente percorre a cidade toda e faz muitas amizades, ficamos muito respeitados, as pessoas nos encontram na rua e ajudam com dinheiro para o livro de ouro.

Mensagem

Sinto-me satisfeito e uma honra deixar documentado a memória da minha passagem nessa vida, é interessante.
A pintura pra mim é uma realização, mesmo mais velho eu ainda me arrisco, mexo em alguns quadros antigos. 
Agradeço essa oportunidade.


Fotos, edição e entrevista: Denise Boschetti