quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Depoimento de Odilon Boschetti




Meu nome completo é Odilon José Boschetti, nasci dia 9 de maio de 1933, em São Roque.
O nome do meu pai é Alfredo Boschetti e da minha mãe Vitória Frizzo Boschetti.
Meus avós paternos chamavam-se, Ângela Tessari Boschetti e Felippe Boschetti, tinham um Armazém de Secos e Molhados na Rua Rui Barbosa ao lado de onde ainda existe a casa do meu irmão Roque, já falecido e minha cunhada Iracema.
Meus avós maternos eram Amália e Pedro Frizzo, não me recordo agora qual era a atividade profissional deles.
O nome Boschetti, origina-se do norte da Itália, na cidade de Padova, se não me engano.

A atividade profissional do meu pai era comerciante, por muitos anos foi açougueiro. Essa época do Açougue, ele muitas vezes levava encomendas para os fregueses, ia até o Matadouro da cidade pra abater os animais, principalmente carne de porco, a que mais atendia a freguesia e também derivados da carne de porco- lingüiça, etc., tinha grande freguesia nesse setor.
O açougue ficava na Rua Rui Barbosa 407, ligado a casa. O Matadouro era distante do centro, às vezes eu ia junto. Ele abatia os animais e realizava as medidas necessárias após o abate para trazer a carne para a venda no açougue.





Foto: Matadouro Municipal-acervo SOSPatrimoniohistoricoSR







Ele teve esse comércio de carnes até 1950 mais ou menos. Depois ele trabalhou como funcionário público Estadual num posto de Pedágio de uma das nossas rodovias, a Raposo Tavares, onde se aposentou.

Família Boschetti

Nós morávamos na Rua Rui Barbosa 407 - meus pais, eu o meu irmão mais velho Helio e posteriormente, meu irmão mais novo Roque. Também a Tia Matilde, irmã do meu pai, que durante muito tempo fez parte da nossa família, porque o marido havia ido pra Itália e ela não quis voltar com ele. A Tite, como carinhosamente a chamávamos, teve grande influência em nossa educação, pois ela se interessava muito pelas crianças da família. E também era costume, que amigos, irmãs e cunhados dos meus pais passassem um tempo conosco. A casa era grande, e tinha uma espécie de conjugado ao fundo, onde um casal, por exemplo, podia ficar mais a vontade.
Além disso, havia um grande quintal com árvores, horta, uma espécie de rancho coberto de zinco pra guardar materiais, sucatas e durante um tempo depois, que fechou o açougue, meu pai ainda criava alguns animais no quintal pra abater no natal, presentear os amigos. Isso faz muito tempo, ainda não havia problemas, a cidade não era tão urbanizada.
Também havia um porão e uma área coberta, onde ficava uma grande mesa de madeira com um cilindro numa das pontas, para afinar as massas, que eram todas feitas em casa, manualmente- macarrão, ravióli, capeletti....


foto:acervo Decio de Moura

As brincadeiras da infância eram- futebol na rua da nossa casa e brinquedos normais da criançada. Nós também íamos ao Cine Central, posteriormente veio a ter o cine São José, mas recordo-me bem do Cine Central, onde passamos a assistir às primeiras sessões cinematográficas. Eu me lembro dos filmes em série, de Faroeste e outros filmes em série que a criançada acompanhava. Sempre tivemos muitos amigos, quando criança e adolescente.





Foto do acervo de Luis Guilherme de Oliveira








Quando criança, estudei no Grupo Escolar Bernardino de Campos, onde fiz até o quarto ano. Posterior a isso eu parei de estudar por um tempo e só vim retomar os estudos bem mais tarde e continuei até formar-me Advogado.

                                            foto: acervo Decio de Moura

 
Da cidade eu me recordo mais das tradições festivas e religiosas, a Festa do Padroeiro, que acontece todos os anos no dia 16 de Agosto, as procissões religiosas.
Já numa fase mais adulta, a partir de uns 20 anos, lembro-me dos Carnavais de rua, que eram muito animados e bem organizados.
Ainda na juventude nós também gostávamos de jogar futebol, tênis de mesa, não tínhamos computador, eram as rádios a grande novidade, as emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro, que nós ouvíamos frequentemente.

No morro do Saboó, me lembro de ter ido, pois era local de freqüência turística e também íamos a Capela de Santo Antonio, que ainda hoje está lá.
Capela de Santo Antonio pintura de Murilo Silveira
foto:Denise Boschetti



Nós já tínhamos alguns locais que atraíam turistas pra cidade. Também o Cruzeiro, íamos em grupo, fazer caminhadas, aos domingos fazíamos pic nic na Cachoeira com a família, minha mãe e as mulheres dos meus irmãos e a minha, preparavam lanches pra levar e passávamos a tarde toda lá, com as crianças. Eu tinha um Jeep na época, era muito bom.

Rádio Cacique

Na juventude, eu já era locutor do serviço de alto-falantes da cidade, que eram instalados na Praça da Matriz e nós fazíamos a locução a partir de um estúdio, fazíamos propaganda e outras comunicações.
Nos anos 50, quando a Rádio Cacique veio pra cidade, fui convidado a ser locutor e o fui por muitos anos. Foi um período muito interessante porque a Rádio foi uma grande novidade no setor de comunicação para cidade e para nós também, que passamos a ser profissionais de comunicação. Sem dúvida a Rádio nos tornou conhecidos em todo o município, éramos as pessoas que faziam a comunicação profissional da cidade.
A publicidade que fazíamos era de todos os estabelecimentos comerciais, de algumas profissões. Não me recordo agora de nenhuma propaganda pra citar.
Os estúdios da Radio Cacique ficavam no Edifício Costa, na Avenida Tiradentes, era um edifício na época relativamente novo, de três andares e os estúdios ficavam num desses andares do prédio.
A Rádio tinha mais ou menos, 100 km de raio de ação e os programas eram culturais, sertanejos, informativos, noticiários locais e internacionais.
Eu trabalhei em horários diferentes, era um dos locutores, tinha mais dois ou três, eu fazia locução comercial, informativos, aniversários, o que aparecesse a gente tinha que fazer.

Juca de Oliveira

O Juca de Oliveira é uma pessoa pela qual, nós da cidade, temos grande respeito e admiração.
Durante algum tempo, juntamente com outros amigos, passamos a morar na cidade de São Paulo, numa casa muito grande, que ele alugou com seus pais e nos deram guarida. Nessa casa então, moramos alguns anos, época que o Juca começou sua carreira de grande ator e autor que ele é hoje, do nosso teatro e televisão, tenho muito orgulho de ser amigo desse grande artista.

Foto do acervo da familia do Juca de Oliveira

Eu fiquei algum tempo morando em São Paulo, porque estava me preparando para fazer um estágio numa seguradora, quando terminei, voltei para São Roque.
Casei-me em 1959 e ainda moramos alguns anos em São Roque, na Rua Enrico Dell’acqua, próximo à casa do meu irmão mais velho, Hélio e eu fiquei lá até o final de 1964, depois mudei com a família para Campinas, onde me estabeleci e moro até hoje.
Minha esposa, Maria Elisa, conheci em São Roque, ela é parenta do Álvaro Rufino, sobrinha da esposa dele, a Dona Lurdes, mas o meu casamento foi na cidade de São Paulo na Igreja Nossa Senhora de Fátima no Sumaré, pois ela morava com os pais nesse Bairro.
Tivemos quatro filhos, o os dois mais velhos nasceram em São Roque, Wagner e a Wania, a Walkiria e Wladimir, já nasceram em Campinas.

Serenatas

Eu tinha amigos que gostavam de fazer serestas e eu os acompanhava, o Fádlo Salim, o Paschoal Rabechini e alguns outros, muitos não vejo há muito tempo!
Aos sábados à noite nós fazíamos serenata, saíamos por volta da uma hora da manhã e cantávamos em frente de algumas casas, de quem nós sabíamos, gostavam de serenatas.
As canções eram do Silvio Caldas, Francisco Alves, próprias de serestas, isso foi no início da década de 1960.

Festas do Vinho

Eu sempre trabalhei nas Festas do Vinho, no setor de comunicação, nós fazíamos o serviço de alto-falantes, para transmitir recados, anúncios e também anunciar os shows que eram apresentados durante as festas.
Os artistas que vinham se apresentar na cidade eram bem conhecidos, como- Agostinho do Santos, atores e atrizes, Débora Duarte, Lima Duarte, artistas e políticos, muitos passaram pelas Festas do Vinho.
O público vinha atraído pelo vinho da cidade que era muito bom, conhecido, e a festa era armada num local um pouco afastado do centro, com barracas das diferentes marcas de vinhos, que em maioria, eram de produção local. Havia também comida como bacalhau, salgados e as pessoas experimentavam os vinhos e comiam.
Lembro-me que o Vinho Capuzzo, durante uns anos ganhou o primeiro premio, Vinhos Collo, Vinhos Maravilha, são tantas outras marcas que não me recordo mais.
Havia concursos para eleger os melhores vinhos do ano que eram reconhecidos publicamente por um selo de qualidade.

Década de 1960

Um acontecimento muito importante, que me recordo, é que, como eu participava da organização das Festas do Vinho, num desses anos vim a conhecer o grande cantor Joel de Almeida, da dupla - Joel e Gaúcho.
Eu e o Joel convivemos algum tempo por ocasião da festa e eu colaborei com ele, na composição de uma das suas marchas carnavalescas, que se chama Sempre é carnaval e o Joel numa atitude íntegra e honesta reconheceu a minha parceria nessa composição. O disco foi gravado pela gravadora Odeon e consta que nós somos os autores. A marchinha tem uma letra simples (link para ouvir e letra abaixo):

http://youtu.be/QZPXrVeZKOc

Letra
Joel de Almeida e Odilon Boschetti
Sempre é carnaval, sempre é carnaval
Vamos embora pessoal!
Sempre é carnaval
Muita alegria pessoal!

Linda morena que está comigo
Na terça-feira de carnaval,
Na quarta-feira estará distante/
Não fique triste
Porque sempre é carnaval!


G U S e os Clubes da cidade

Lembro-me também da fundação do nosso querido Grêmio União Sanroquense (GUS), da qual fizemos parte.
O Grêmio foi iniciado por um grupo de jovens que queria constituir um Clube esportivo, das mais diversas modalidades para a juventude sanroquense. Tinha vôlei, basquete, natação.
Os precursores foram Mário Luis Campos de Oliveira, que depois veio a ser prefeito, eu, meu irmão Helio Boschetti e outros, Hélio Villaça, muitos amigos, fizemos um movimento e colaboramos para sua construção.
Tínhamos também o São Paulo Clube, que depois, fundiu-se com a Literária e tornou-se o São Roque Clube. A gente participava de todas as festividades, os carnavais, os bailes das festas de Agosto, que eram bailes comemorativos. Eu freqüentava mais o São Paulo Clube, os bailes e festas de final de ano, a gente participava, usava traje passeio, trajes mais formais, como Smoking, eventualmente. Eu tive algumas namoradas na cidade (risos).

Comércio


Durante alguns anos eu tive duas mercearias na cidade, uma na Rua Rui Barbosa e outra na Avenida Tiradentes, eram armazéns de secos e molhados, vendiam gêneros alimentícios a granel, os armazéns ou mercearias foram os precursores dos supermercados.
Tudo isso na década de 60, depois me mudei para Campinas.

A cidade, política e recordações

Recordo-me da casa do Barão de Piratininga, ela ficou um tempo desocupada e depois foi demolida. Antes de ser o prédio da Prefeitura era habitada por uma família, que não me lembro o nome e tinha um estabelecimento comercial na parte de baixo, o Rancho Alegre.

Também participava como apresentador das Campanhas políticas, a que me recordo muito, foi a campanha para primeira gestão do Mário Luis, eu gravei discos de publicidade da campanha do Mário.
Foto do acervo de Luis Guilherme de Oliveira




Nós aproveitamos uma música conhecida e fizemos um texto em cima dessa melodia. A minha participação foi na comunicação da campanha. Devo ter isso gravado, preciso procurar.

É uma grande emoção falar de São Roque, nossa querida terra natal e naturalmente como terra natal nos toca a sensibilidade sempre que lembramos da nossa vida nessa cidade.
Eu sou o irmão do meio, meus dois irmãos já faleceram, saí de São Roque há muito tempo e não me lembro de tantas coisas, nem da ordem dos acontecimentos ao certo.

Viajei um pouco pela Europa, passei em frente à cidade de Montepellier, mas não pude ir, gostaria muito de ter conhecido a cidade onde São Roque nasceu, foi possível apenas contemplar uma vista da cidade, que era mais abaixo de onde nós estávamos.


foto:wikipedia-vista da cidade de Montpellier



Mensagem

A minha mensagem pra quem ler esse depoimento é de gratidão e saudade. Sempre que falo da nossa querida São Roque, aos sobrinhos e aos grandes amigos, que ainda tenho lá, alguns já partiram deste mundo, mas para quem viveu em São Roque, sente um toque de emoção e vida por ser nossa terra natal.
Eu estou há muito tempo fora, vejo que a cidade cresceu muito no setor de turismo, mas naturalmente é importante o poder público cuidar e preservar a história da cidade.
Quando vivi em São Roque, foi uma época muito atuante e feliz.
Ainda tenho muitos amigos e conhecidos na cidade o Zé do Nino, o Chico Bio, o Ivo Boschini e muitos outros, muitos deles também não moram mais lá. Eu vou, principalmente, nas festas de Agosto, quando nos reencontramos e reunimos na casa do Zé do Nino, é uma reunião muito alegre, cantamos e recordamos momentos maravilhosos da nossa vida Sanroquense.
Eu faço questão de ir todos os anos à festa de São Roque.