sexta-feira, 20 de maio de 2011

MEMÓRIAS E HISTÓRIA

Caros leitores, esse Blog pretende reunir memórias e histórias de vida, de pessoas que nasceram, viveram ou vivem em São Roque, em Montpellier ou que faça link com o tema e esses locais.
A ideia principal é compor uma história dessas duas cidades com a história de cada um. Ao conhecer a história da cidade de Montpellier na França e encontrar inúmeras semelhanças com a pequena São Roque no interior de São Paulo-Brasil me inspirei a criar esse Blog pra compartilharmos nossas histórias, nas quais certamente encontraremos muito em comum.

O Memorial

Memorial é o resultado de uma narrativa da própria experiência retomada a partir dos fatos significativos que nos vêm à lembrança. Fazer um Memorial consiste, em um exercício sistemático de escrever a própria história, rever a própria trajetória de vida e aprofundar a reflexão sobre ela. Esse é um exercício de autoconhecimento. 
O Memorial está intimamente relacionado a um exercício de reminiscência, isto é, de “puxar pela memória”.
Como a memória é seletiva, filtrada pelo que sentimos, espero que no processo de construção desse Memorial, esta seleção torne-se reflexiva.

Por que preservar memórias?

Ao recuperar memórias temos maior conhecimento de lugares, pessoas, fatos e isso gera pertencimento.
Ao sentir que pertencemos à historia, passamos a valorizar mais os lugares,as pessoas e os fatos,a perceber que a historia é viva, feita cotidianamente e pode ser recostruida ou reformulada, deixando assim de ter uma postura passiva e distante dos acontecimentos historicos e dos problemas do local onde vivemos.

Mas afinal o que é memória?

A memória é a capacidade de registrar, armazenar e manipular informações provenientes de interações entre o cérebro e o corpo ou todo o organismo e o mundo externo. É a base dos nossos sentimentos ou de qualquer atitude cotidiana, variando conforme os diferentes períodos da vida (gestação, infância, adolescência, senescência). Está intimamente relacionada com o aprendizado, uma vez que o aprendizado é a aquisição de conhecimentos e a memória é o resgate desses conhecimentos após certo tempo.
Endel Tulving, um dos líderes da pesquisa sobre memória, definiu-a (memória) como “uma viagem mental no tempo”, ou seja, lembrar o que aconteceu no passado é o mesmo que reviver o passado no presente.
Para Com Brooks, pesquisador da neurodinâmica, “ao invés de ter representações a memória é uma adaptação dinâmica de cérebro por reconstituir um ato na reposta acontecimentos no contexto diferente no ambiente”. Não há uma estrutura única e isolada do cérebro que determine a memória, pois ela é o resultado de um agrupamento de sistemas cerebrais trabalhando em conjunto.
A forma como encaramos certas situações e objetos está impregnada por nossas experiências passadas. Segundo Ecléa Bosi (1979), através da memória, não só o passado emerge, misturando-se com as percepções sobre o presente, como também desloca esse conjunto de impressões construídas pela interação do presente com o passado que passam a ocupar todo o espaço da consciência. O que a autora quer enfatizar é que não existe presente sem passado, ou seja, nossas visões e comportamentos estão marcados pela memória, por eventos e situações vividas. De acordo ainda com essa autora, o passado atua no presente de diversas formas. Uma delas, chamada de memória-hábito, está relacionada com o fato de construirmos e guardarmos esquemas de comportamento dos quais nos valemos muitas vezes na nossa ação cotidiana. 

História oral segundo Paul Thompson

Paul Thompson é um historiador inglês, pioneiro na história oral na Grã-Bretanha. Trabalha de uma perspectiva socialista, o que influencia a sua concepção de história, de tratamento com as fontes e da utilidade social do trabalho do historiador. Para ele, a história oral é uma aliada importante, junto com as fontes tradicionais, para a democratização da história, e também uma visão ao mesmo tempo ampla e detalhada sobre aspectos que não seria conhecido pelos documentos escritos. “A história oral devolve a história às pessoas em suas próprias palavras. E ao dar-lhes um passado, ajuda-as também a caminhar para um futuro construído por elas mesmas” -
Também são importantes para a aproximação da história com as comunidades, as crianças, os trabalhadores, e, não menos importantes, os idosos. Faz uma defesa apaixonada da utilização de fontes orais, citando-se muitos exemplos de projetos de pesquisa e de história em escolas, asilos e comunidades. A interpretação da história oral, na concepção de Paul Thompson: “Única, muitas vezes candidamente simples, epigramática e, contudo, ao mesmo tempo representativa, a voz consegue, como nenhum outro meio, trazer o passado até o presente. E sua utilização não altera só a textura da história, como seu conteúdo” -
Segundo o autor, a história oral foi uma das primeiras formas de se fazer história. O surgimento da escrita e a crescente sofisticação das narrativas históricas fez com que fossem priorizadas as fontes documentais em detrimento das orais, e que essas narrativas se distanciassem cada vez mais dos sujeitos históricos. Portanto, para Thompson, há várias utilizações da história oral, mas a que mais importa para ele é aquela em que a finalidade seja construir uma história democrática e coerente com os seus sujeitos, e não apenas com documentos e estatísticas; e nesse processo ajudando-os a entenderem melhor sua situação e também realizarem um tipo de terapia de reminiscência. Há uma mudança de enfoque da história tradicional, ou seja, os menos favorecidos socialmente podem ter sua voz ouvida.
A mais importante contribuição da história oral, na opinião do autor, é com a história operária. Foi na preocupação social de pesquisadores que os trabalhadores industriais começaram a ter voz na história. É um campo rico em publicações do gênero, e que foi em parte responsável pelo “resgate” da história oral nos século XIX e XX.
Estudos sobre costumes, comunidades, formas de vida são recheados de depoimentos de pessoas simples e também de membros da elite. “As gravações demonstram como é rica a capacidade de expressão de pessoas de todas as condições sociais” -
Segundo Thompson, o que se obtém das entrevistas é a percepção social dos fatos, os seus significados sociais. A fidedignidade do relato varia conforme uma série de fatores.
“A natureza da memória coloca muitas armadilhas para os incautos, o que frequentemente explica o ceticismo daqueles menos informados a respeito das fontes orais. Porém, oferecem também recompensas inesperadas para um pesquisador que esteja preparado para apreciar a complexidade com que a realidade e o mito, o “objetivo” e o “subjetivo”, se mesclam inextricavelmente em todas as percepções que o ser humano tem do mundo, individual e coletivamente” 
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro, Paz e Terra: 1992

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