Revisitar o passado nos leva a arejar os cantos da memória e cá estou novamente, dessa vez com as memórias do Cinema São José.
Hoje inicio essa história e logo mais adicionarei trechos do depoimento da Iris Barioni, quem entrevistei para refazermos a memoria desse importante espaço para a cultura de São Roque, nos anos 50 e 60.
No começo de tudo, no mesmo local ficava o Teatro São João, cuja entrada era pela pequena rua Rosina de Oliveira.
Com o tempo tornou-se cine São José, todo reformado de acordo com os conceitos modernistas da arquitetura.
Foto: Denise Boschetti
O Cine São José foi um marco importante, numa época em que os Cinemas de rua eram comuns e geralmente tinham construções glamourosas. Havia ainda o Cine Central, que ficava na Praça da Matriz e também merece uma revisita a ser feita oportunamente
Com o tempo os shoppings centers foram construindo cinemas menores e apresentando filmes mais comerciais, o que praticamente fez extinguir com os cinemas de rua.
Em São paulo por exemplo, há poucos e o famoso e também querido Cine Belas Artes foi fechado e passou por três anos de processo para conseguir sua reabertura, cuja reforma será feita pelo empenho de empresários e financiada por Bancos e outras fontes de recursos. O imóvel também é propriedade particular.
O mesmo poderia acontecer com o Cine São José, ha anos fechado se deteriorando, numa cidade em que, ainda há poucas opções culturais. Com certeza é um espaço que esta na memoria afetiva de muitos são-roquenses, que vivenciaram a época gloriosa desse cinema.
Abaixo mais fotos e o depoimento de Iris Barioni
Nasci em São Roque na Rua Rui Barbosa, onde eu moro até
hoje, no dia 1 de outubro de 1928.
Perdi meu pai com quatro anos, ele se chamava Aristides
Barioni e minha mãe Maria Pedracci Barioni, meu pai é descendente de italianos,
e também italiano de nascença, nasceu em Adria e minha mãe filha de italianos
também, nasceu em São Paulo, no Bom Retiro, há 80 anos.
Meus avós maternos chamavam-se Luiz e Teresa e meus
avós paternos chamavam-se Teresa e Pedro, as duas avós chamavam-se Teresa e as
duas por sinal eram duas italianas daquelas, que gostavam de saber tudo o que
acontecia, não saiam de casa, mas sabiam tudo o que acontecia em volta e na
cidade. E elas atraíam pessoas, que vinham lhes contar tudo. Elas não saiam de
casa porque tinham problemas nas pernas, a materna tinha elefantíase, mas em
compensação o radar funcionava e elas realmente sabiam tudo o que acontecia em
volta.
Meu pai era funileiro, em casa tinha um barracão muito
grande no quintal, aqui na Rua Rui Barbosa, que hoje é uma parte onde está o
cinema e ele fabricava calhas e todo tipo de conserto. Eu não me lembro, mas
minha mãe contava, que eles depois de casados trabalhavam juntos, faziam
canequinhas de latas de leite condensado, de massa de tomate. As pessoas
levavam e eles punham cabo pra fazer caneca.
Quando a bacia, que não era de alumínio, nem de
plástico, o material chamavam de folha e quando essas furavam as pessoas
levavam pro meu pai soldar.
Minha vó materna se criou em São Paulo e veio já moça
pra São Roque, ela contava que meu avô vendia frango, ovos, nas casas, comprava
e revendia, lidava com comércio.
Os avós paternos não me lembro com o que trabalhavam.
A origem do nome Barioni é italiana, meu pai é de Adria
e ainda tem Barioni por lá, segundo algumas pessoas que viajaram pra Itália e
nos contaram.
Minha mãe veio com a família de São Paulo e se instalaram
na rua Rui Barbosa também, mais pra baixo de onde é nossa casa.
Meu pai era viúvo, quando conheceu minha mãe e tinha
dois filhos com a primeira mulher, Vasco e Neris. Vasco tinha 4 ou 5 anos
quando a mãe morreu e a Neris deveria ter uns 2 anos.
Meu pai estava perdido, viúvo, com a mãe doente, minha
avó Teresa, que morava com ele e não podia cuidar das crianças, então meu pai,
acho que conheceu minha mãe, gostou, se interessou e casaram e desse casamento
nasceu Eu e mais um irmão, o Valdemar, que já é falecido, então eu sou meia
irmã de Vasco e de Neris, mas esse meia irmã, acho que vale por uma e meia,
porque nós crescemos todos juntos e minha mãe como madrasta de Vasco e da
Neris, sem querendo incensar minha mãe, ela foi uma pessoa maravilhosa. Era uma
mãe mesmo, eles tinham um respeito e um amor por essa mãe, que foi a que
conheceram, pois a verdadeira eles não conheceram. Não tinha diferença, fomos
criados todos como uma família.
Quando Vasco tinha 18 para 19 anos meu pai morreu,
muito novo ainda, com 48 anos. Moramos toda vida nessa casa, todos juntos, não
tinha separação. Então Vasco ainda moço, mas como filho mais velho fica tomando
conta da família eu com quatro anos, Valdemar devia ter uns 13 e a Neris era
mocinha, então as coisas pioraram, foi um período difícil, porque antigamente
quando o marido morria a mulher não tinha bens, dinheiro, nós tínhamos uma casa
pra morar, foi o patrimônio que meu pai deixou e vale muito graças a Deus.
Meu pai sempre dizia tem que ter uma profissão, porque
não era comum continuar estudando. Mas Vasco terminou a escola e foi aprender a
profissão de funileiro e passou a trabalhar e ganhar a vida como funileiro. As
coisas ficaram muito difíceis, Vasco se viu com menos de 20 anos como chefe da
família e ele era muito sonhador, artista e minha mãe dizia que foi uma época
muito difícil, mas passou, minha mãe ajudava também fazendo as canequinhas,
trabalhou bastante e foram vencendo as dificuldades.
Depois de certo tempo, Vasco ficou sócio do Cinema aqui
na Praça (Cine Central) e a vida aos poucos foi ficando bem melhor. Eu já era
maior, fui trabalhar também, então as coisas foram se ajeitando.
Infância/Estudos
Eu nunca gostei de estudar, não gostava de ir à escola,
sou muito grata a Vasco, que me colocou no colégio São Jose, eu fui uma das
primeiras pessoas matriculadas no antigo colégio São José. Vasco me matriculou
e era numa casa na Avenida Tiradentes, a lembrança é vaga, não havia o Colégio
ainda, as freiras vieram e se instalaram em casas. Uma das casas era a da Dona
Ólida, e nessa esquina era um casarão bem rustico e tinha umas aulas, porque
tinha classes aqui e em outros lugares, na igreja de são Benedito também tinha
uma classe, até que construíssem o colégio, porque não foi fácil, a criançada
ia vender rifa pra ajudar na construção do colégio.
Eu estudei até o quarto ano no colégio, mas nunca
gostei de estudar e vou dizer com toda sinceridade, eu era a pior aluna da
classe (risos). É chato falar, hoje eu reconheço, tirei diploma com a nota mais
baixa da turma. Eu sempre gostava de falar muito na escola, sempre fui muito
faladeira e as irmãs eram muito bravas, exigentes o que era ótimo porque
aprendemos muita coisa. Hoje me irrita ver os jovens não darem lugar pros mais
velhos e a gente ouvia muito as irmãs dizerem que tínhamos que respeitar os
mais velhos, dar o canto, ajudar atravessar a rua, coisas básicas de educação
elas martelavam muito com a gente.
Foi um período bom na minha vida, mas eu gostava mesmo era de brincar na rua, eu era moleca, gostava de brincar com os meninos. As brincadeiras eram Barra Bola, na rua. Barra bola era assim: ficava uma turma de uns quatro ou cinco de um lado e outra de outro lado e tinha um risco no meio dividindo; uma equipe jogava a bola e o outro lado tinha que pegar no ar, se pegasse era ponto e passava pro outro lado. Se não pegasse, o que havia passado de lado corria jogar, pra poder trazer mais ponto pra esse lado, que havia passado, era uma delicia.
Foi um período bom na minha vida, mas eu gostava mesmo era de brincar na rua, eu era moleca, gostava de brincar com os meninos. As brincadeiras eram Barra Bola, na rua. Barra bola era assim: ficava uma turma de uns quatro ou cinco de um lado e outra de outro lado e tinha um risco no meio dividindo; uma equipe jogava a bola e o outro lado tinha que pegar no ar, se pegasse era ponto e passava pro outro lado. Se não pegasse, o que havia passado de lado corria jogar, pra poder trazer mais ponto pra esse lado, que havia passado, era uma delicia.
Brincava de Pais (pega-pega), quanta brincadeira, como
a gente brincava! Tudo sem malicia, tão puro. Sempre tinha dois blocos
separados, a gente ia se esconder e a outra turma tinha que achar. A gente se
escondia em cada lugar, no porão das casas, da casa dos seus nonos, na casa do Mário
Corsi, a gente se enfiava nos porões e quintais com os meninos, seu pai Hélio,
o Wilson, o Constante Capuzzo, o Zezito, Sérgio, então era um time de meninos e
meninas, de noite porque de dia tinha que estudar e trabalhar, então a gente
brincava de noite, era muito bom.
O meu irmão mais velho, o Valdemar e eu íamos brincar
num morro ali perto de onde hoje é a Praça dos Expedicionários, não tinha nada,
a gente brincava de escorregar no morro de terra com um papelão, eu sempre fui muito
moleca, sempre tive brincadeiras de homem mesmo, acompanhava meu irmão, ia
escorregar e um dia voltei com a calça toda rasgada, apanhei né, porque a gente
apanhava.
Brincava também de Peteca,
Amarelinha, tudo na rua, que era de terra batida. A gente vivia esfolada
porque caía.
A Rua Rui Barbosa antes tinha a casa do Vitório Tozzi,
que derrubaram, a casa da Yarinha; a do Antônio Paulino ainda está aí, a casa
da Dona Serafina e o Sr. Moretti também já demoliram faz tempo, a casa do
Quinzinho Gomide, pai do Memá era pegada com a do Moretti, a casa do Remo
Moretti e a Barbearia embaixo, a porta da barbearia que tinha um vidro colorido
nós achávamos lindo.
Muita brincadeira, a infância durava muito tempo, 14
anos e a gente ainda brincava nas ruas. Foi uma infância, que apesar de
difícil, porque me lembro de que a vida era dura, comíamos duas vezes por dia
somente, era apertado, tínhamos o necessário, mas brincar, os amigos era o que
a gente tinha de gostosura na vida e compensava se faltavam coisas básicas
dentro de casa.
O quintal da nossa casa era muito grande, dava fundo na
Praça da Matriz, onde ainda tem a casa do tio do Zé do Nino, onde embaixo fica
uma papelaria, Xerox, em cima era a casa da dona Cila e Sr. Zico Lima, que não
tiveram filhos e adotaram todos os sobrinhos, então a gente vivia muito ali. Um
muro que separava os nossos quintais e muitas e muitas vezes a gente pulava o
muro pra ir brincar lá, eu era muito amiga de Yolanda a irmã do Zé do Nino. A
gente pulava de cá pra lá, eles de lá pra cá e a gente brincava muito.
Adolescência/ vida adulta e o Cinema
Quando eu tinha 14 anos o Vasco casou-se com Nezita e
foi uma fusão de famílias muito boa. Foi uma graça muito grande que tivemos, de
poder conviver com a família de Dona Amazilia Ribeiro Lopes , então começou um
período diferente na minha vida porque eu tinha saído recentemente do primário,
com 12 anos e fui aprender costura, porque eu não gostava de estudar, então
minha mãe disse: vai aprender costura porque tem que ter uma profissão, você
vai aprender a fazer calças masculinas (risos), tinha que ser isso, não entendi
por que. E eu fui e aprendi com uma costureira, a gente era chamada de Aprendiz
e fiquei muito tempo indo como aprendiz na casa de uma pessoa que eu amo muito
e tenho muita consideração e que teve uma grande influencia na minha vida, a
Sra. Olivia Brossa, ainda viva, com 96 ou 97 anos, que mora ao lado do Grupo Escolar
Dr. Bernardino de Campos.
Fiquei muitos anos costurando, aprendi e comecei a
fazer calças e ganhar dinheiro. Muito tempo eu fazia lá mesmo, depois que
tivemos que mudar (da nossa casa velha, onde nascemos e moramos até fazer o
Cinema, a casa era onde é o cinema).
Minha mãe nessa época tinha uma lojinha, ela gostava
muito de comércio e tinha uma lojinha de roupas feitas nessa casa. Enquanto
construía o cinema a loja mudou pra um cômodo de frente na casa do Sr. Remo
Moretti, que ele cedeu pra nós, então eu vim costurar na loja, trouxe minha máquina
e eu cuidava da loja e costurava.
Foi suado pra comprar a máquina, era de segunda mão do
Sr. Lauro Pezzota, que vendeu facilitando muito o pagamento e a gente
trabalhava pra pagar a prestação da máquina, que eu tenho até hoje.
Trabalhei muito tempo até o Cinema ser inaugurado. Quando
o cinema foi inaugurado nossa vida mudou pra melhor, mas daí, eu fiquei mais
tomando conta da casa, porque nessa época minha mãe já estava doente, idosa e
fiquei quase titular da casa e também o Bar do Cinema, que foi a minha vida. Cuidei
desse bar por 40 anos e a vida foi melhorando, voltamos a morar aqui...
Enquanto o cinema era construído a esposa de Vasco e as
duas filhas Cristina e Lucia foram morar na casa de Dona Amazilia e eu e minha
mãe ficamos na casa de minha outra irmã, que morava na Rua Comendador Inocêncio
ficamos lá três ou quatro anos até construir o cinema. A casa da Da. Amazilia
era coração de mãe, era uma casa tão pequena, mas que acolhia todo mundo e eles
davam jeito pra tudo e pra todos. O Zé Roque, filho de Vasco, que construiu a
Vaca mecânica e já é falecido nasceu nessa época, em que eles moraram na casa
da Dona Amazilia. Depois que a casa ficou pronta, essa casa que tem passagem
pro cinema, voltamos a morar todos juntos, eu, minha mãe e Vasco com a família.
Inauguração
do Cinema São José
O cinema foi inaugurado 19 de Março de 1951.
Foi uma fase áurea da nossa vida, uma fase muito boa,
financeiramente também ficou melhor.
Os primeiros dois anos foram mais difíceis porque
tínhamos que pagar as dívidas, da construção, que foi feita com muito
sacrifício, então tinham dividas a pagar.
A fachada do cinema foi Vasco que fez inspirado na Arte
moderna, não sei se foi ele que pintou, mas ele criou.
Desde que o Vasco nasceu ele queria um cinema, desde
pequeno ele era louco por cinema e lutou a vida pra isso e conseguiu e foi muito
bom pra ele, a vida dele era o cinema. De tanto que ele queria, as coisas foram
aparecendo.
O engenheiro que projetou era meio parente, o José
Cruz, fez a planta, mas tudo, sob orientação de Vasco.
O cinema ficou muito maior que o antigo Teatro São João,
porque juntou o terreno com outras casas vizinhas, pra construir e muita gente
ajudou. Porque o Teatro São João era patrimônio da prefeitura, Vasco conseguiu
comprar, o prefeito da época vendeu, era um dos Tagliasacchi. Houve muita
colaboração das pessoas pra que essa obra saísse.
Os aquários, as decorações nas paredes, as luminárias tudo era ideia de Vasco, que nasceu em 22 de novembro de 1910.
Os aquários, as decorações nas paredes, as luminárias tudo era ideia de Vasco, que nasceu em 22 de novembro de 1910.
Desde a inauguração eu, minha mãe e a cunhada de Vasco
ficamos sócias e tocávamos o bar do cinema. Vendíamos groselha, era da Dubar e
é um sucesso até hoje era somente água e groselha nada mais, mas as pessoas
adoravam e também chocolate quente, eram o forte do Bar. Vendíamos pedaços de
bolo, balas, bombons, quando saiu o drops Dulcora, nós vendíamos e era um sucesso
e tinha refrigerante também. Depois de algum tempo aprendemos a fazer amendoim
com açúcar, que se chama chebréu e o
cheiro contagiante, vendia muito.
Inauguração
O primeiro filme que passou no cine São José foi “Deus
lhe pague” um filme Argentino (título original "God bless you", de Luis César Amadori, lançado em 1948) teve boa
bilheteria e foi a primeira renda do cinema, que o Vasco doou pra Obra
assistencial de São Roque, porque D. Amazilia era muito envolvida com a Obra
assistencial e como no momento, ambas as coisas eram muito importantes, então
ele doou a primeira renda da bilheteria.
O Cinema teve tantas coisas boas, enchia toda noite, durante a semana, nos fins de semana tinha duas seções e domingo tinha ainda a Taba (de manhã) para crianças e a Matinê à tarde para os adolescentes. Então tínhamos frequentadores assíduos, parece que era uma família, pois todo mundo vinha e conhecia a gente.
O Cinema teve tantas coisas boas, enchia toda noite, durante a semana, nos fins de semana tinha duas seções e domingo tinha ainda a Taba (de manhã) para crianças e a Matinê à tarde para os adolescentes. Então tínhamos frequentadores assíduos, parece que era uma família, pois todo mundo vinha e conhecia a gente.
Vasco também era sócio do Cine Central, depois que o
São José começou a engrenar ele deixou a sociedade lá.
platéia no dia da inauguração
platéia no dia da inauguração
filme "Deus lhe pague"
Filmes
Em 1951 era o auge de Hollywood, quando começaram as
grandes produções cinematográficas, como Ben Hur, Os dez mandamentos, Noviça
Rebelde, Dançando na chuva. Também teve a época dos filmes de faroeste e os que
lotavam o cinema eram os filmes do Mazzaroppi, tínhamos que por cadeiras
extras.
Teve um filme feito por pessoas da cidade, que foi
campeão de bilheteria “Balas encravadas’, ficou 2 dias em cartaz e foi
necessário sair com um carro na rua avisando pra não virem ao cinema, porque não
tinha mais lugar”.
Então logo no começo do cinema as seções enchiam. Rebecca
ainda é o melhor filme que vi na vida. Depois os faroestes, com John Wayne,
Ronald Reagan. Foram muitos anos, que exibíamos as grandes produções de
Hollywood Cecil B. de Mille, Hitchcock. Em algumas ocasiões o pessoal ficava no
chão, no corredor, porque lotava tanto, quem não tinha mais cadeiras extras.
Vasco é quem desenhava os cartazes, ele teve muitos
amigos bons, que o ajudavam muito e colaboravam com a gente. Eram empregados,
que se tornaram amigos, amigos mesmo, Osvaldo Perino, Lucindo. Sr. Demerval,
que foi porteiro por anos e anos, Sr. Elílio Franceschi, que foi bilheteiro por
muitos e muitos anos, pessoas leais, amigas. Vasco foi assessorado de gente
muito boa, por isso deu tudo muito certo.
Então essa época foi muito boa, porque acabamos de
pagar as dívidas e a vida melhorou, nós pudemos viver mais folgados
financeiramente, com muita união e festa. Vasco gostava muito de reuniões
familiares e de festas. Ele era muito social.
O cinema começou a entrar em crise, quando veio o vídeo
cassete, no final dos anos 90, mais ou menos, não me lembro tão bem.
Quando o cinema estava bem, Vasco comprou a loja do
Verani, então ele também trabalhava lá e quando o cinema acabou, ainda tínhamos
a renda da loja, onde ele trabalhou muitos anos. Vasco faleceu em 2009.
Nós criamos muitos laços de amizade com o Cinema e eu
também na Igreja fiz muitas amizades.
Eu, a Sra. Julia Ambrósio, Dona Nana e uma sobrinha
dela, fomos as primeiras a fazer os pastéis da Festa de Agosto, montamos a
primeira banca de pastéis, que ficava em frente à Casa Assumpta, onde hoje é a
loja Rogério calçados.
Eu ganhei uma máquina de fazer macarrão e levei pra barraca, fazia a massa em casa e levava na barraca, abria a massa, Dona Julia recheava e Dona Nana fritava, ficávamos o período da festa, mais durante a novena. Isso já deve fazer uns 60 anos, mas vendemos pastéis por poucos anos, depois a festa começou a crescer e exigia mais estrutura. Em 1954 Vasco foi festeiro e inovou trazendo tacho esmaltado, elétrico, antes a gente fritava numa panela grande.
Eu ganhei uma máquina de fazer macarrão e levei pra barraca, fazia a massa em casa e levava na barraca, abria a massa, Dona Julia recheava e Dona Nana fritava, ficávamos o período da festa, mais durante a novena. Isso já deve fazer uns 60 anos, mas vendemos pastéis por poucos anos, depois a festa começou a crescer e exigia mais estrutura. Em 1954 Vasco foi festeiro e inovou trazendo tacho esmaltado, elétrico, antes a gente fritava numa panela grande.
Eu sempre fui muito ativa na Igreja, fui muitos anos
Filha de Maria, que era uma Associação de moças solteiras, era o culto a Nossa
Senhora, era uma associação bem séria. Fiquei muitos anos nessa associação,
participei da diretoria também, depois o auge da minha vida foi o Clube de
mães. Sempre fui dada às obras assistenciais, meu temperamento é de trabalhar
nisso.
Aqui em São Roque foi nomeado um vigário, Monsenhor
Vito e nessa época (entre anos 50 e 60) ele veio com ideias novas, era muito
inteligente e modificou as coisas e criou o Clube de mães, então eu e mais
algumas pessoas fomos convidadas pra participar de um treinamento. Veio de São
Paulo uma freira pra treinar as voluntarias do Clube de mães, foi o primeiro
Clube de mães de São Roque, eu, Cinira, dona Vanda e mais uma ou duas amigas.
A primeira sede era no Cambará depois todos os bairros
tiveram clube de mães, éramos pessoa jurídica, recebíamos donativos e
treinamentos, então na minha vida foi um período muito bom, me realizei com
isso, ficamos lá por uns 30 anos depois deixamos umas voluntarias lá e passamos
pro Santo Antônio, formamos outro clube. Depois as voluntarias mais velhas foram
morrendo e não houve renovação e também o espírito da obra assistencial foi
mudando.
Lazer
Eu frequentava muito pouco os bailes, porque eu fazia
parte das Filhas Maria, cuja condução era muito rígida era como um apostolado
de uma freira, as regras eram duras, eu não uso calça comprida até hoje por
isso, me acostumei.
A gente ia passear na Praça, as roupas que eu usava
eram minha irmã Neris que fazia, eu fazia calças de homem, a gente costurava
pra alfaiates porque os homens usavam ternos, então a gente fazia calças de
casimira inglesa. Os tecidos geralmente eram trazidos pelos clientes e eu
costurava pro alfaiate.
Minha vida amorosa, bom eu não tinha temperamento pra
casar. Minha vida foi muito pura, aberta, com muito carinho, amizades, que é o
que eu mais prezo na vida, porque temos que ter amigos, vida social.
Como mensagem digo que temos que ser solidários, amar o
próximo, por isso eu tenho disposição nessa idade, porque eu amos as pessoas.
Ame e será feliz.
Ter dado esse depoimento foi algo muito bom, fiquei
muito feliz de você querer me entrevistar, eu tinha admiração especial por sua
mãe, que era uma pessoa forte, pessoas como ela, marcam a vida da gente.
Muito obrigada por pedir pra eu registrar minha
história.
fotos do interior do cinema: acervo de Luis Guilherme Campos de Oliveira
fotos fachada -família e Iris: Denise Boschetti
demais fotos: acervo do extinto gruo do facebook-SOS Patrimônio Histórico de São Roque
Organização e edição: Denise Boschetti
Que lindo, Denise! E como a gente faz pra reformar e reabrir como um lugar pra todas as artes: cinema, teatro, dança etc.? Precisa um abaixo-assinado, como no caso Belas Artes? São Roque é muito pobre na parte cultural. E a população merece muito mais nessa área. Parabéns desde já por seu empenho!
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